Livro investiga conceito de violência Terceiro volume de "Violências: Dos Antigos Hábitos às Novas Formas" aborda diversas formas de opressão contra as mulheres

ALLAN LOPES

Publicação: 05/05/2025 03:00

A violência é um fenômeno tão amplo e complexo quanto a dor que provoca. É justamente para desvendar essas múltiplas facetas que 14 mulheres se reuniram para escrever o terceiro volume de Violências: Dos Antigos Hábitos às Novas Formas, com um olhar especial sobre as opressões contemporâneas sofridas por elas. Luciana Santos, ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, é quem assina o prefácio.

Dividido em 12 artigos e mais de 200 páginas, o livro decodifica a arquitetura da violência de gênero em suas diversas dimensões: física, psicológica, digital, institucional e laboral. “As violências se sofisticam à medida que a sociedade evolui. Com o avanço dos estudos, foi possível identificar características específicas de cada tipo, especialmente os assédios”, observa Andréa Keust, juíza no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) 6ª Região e uma das coordenadoras da obra.

Enquanto no século 20 era necessário criar mecanismos contra agressões físicas e amparo às sobreviventes, hoje a Justiça também precisa decifrar crimes que se escondem atrás de telas, mas devastam vidas reais. “Isso mostra como a misoginia se adapta: o controle era via violência doméstica e passou a usar algoritmos”, reflete. Segundo o Fórum de Segurança Pública, 3,9% das mulheres brasileiras tiveram fotos ou vídeos íntimos divulgados na internet sem seu consentimento, o equivalente a aproximadamente 1,5 milhão de vítimas.

Ela destaca que estruturas opressivas permanecem longe de serem erradicadas, apesar dos esforços de parte da humanidade para combatê-las. “Sempre existiram, e mesmo com avanços tecnológicos e o aprofundamento do conhecimento sobre o macro e o microcosmo, ainda lutamos por direitos fundamentais, como a igualdade de gênero e de oportunidades”, lamenta.

Na capa, uma ilustração retrata uma menina feita de peças de quebra-cabeça que se desfazem no ar. Segundo Andréa, a imagem traduz o efeito corrosivo da violência na psique humana – em que traumas desmontam, peça por peça, a estrutura emocional e cognitiva de suas vítimas. “Juntas, elas formam o mosaico dessas violências”, diz.