Risada de pai para filho
Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho celebram o legado dos ícones Chico Anysio e Lúcio Mauro, com humor e afeto no espetáculo "Gostava Mais dos Pais", que entra em cartaz a partir de sexta-feira no Teatro do Parque
Allan Lopes
Publicação: 20/05/2025 03:00
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Carregar o DNA de ícones da comédia brasileira, como os saudosos Chico Anysio e Lúcio Mauro, é um privilégio - mas também uma cobrança constante. Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho conhecem bem essa mistura, especialmente quando ouvem comentários como "eu achava seu pai mais engraçado". Foi a partir dessa pressão que nasceu o espetáculo Gostava Mais dos Pais, que os dois "nepo babies" trazem ao Teatro do Parque na sexta-feira (23), com sessões até domingo. A alta procura levou à abertura de uma sessão extra no sábado.
Embora as trajetórias paralelas pudessem tê-los unido antes, foi a amizade genuína que finalmente os levou ao palco. Eles já nutriam há tempos o desejo de trabalhar juntos no teatro, e acabaram encontrando no próprio passado o tema ideal para essa parceria. "Queríamos proporcionar essa reverência aos nossos ancestrais da comédia, e também aos que vieram depois", observa Lúcio, em conversa exclusiva com o Viver.
O título Gostava Mais dos Pais, uma ironia à provocação que os persegue desde os primeiros passos na carreira, norteou a criação da peça. Se depender do histórico dos dois, a frase continuará ecoando pelas ruas do Recife. "Vai ser o taxista, o garçom, o funcionário do hotel... Sempre aparece alguém", brinca Mazzeo. "Mas hoje a gente ri junto, porque, no fundo, é um elogio disfarçado", completa. Afinal, como não ver privilégio em ser comparado a Chico Anysio e Lúcio Mauro?
Longe de ser um exercício de saudosismo, a peça se firma como um olhar contemporâneo sobre o humor. Sob a direção de Debora Lamm, com texto de Aloísio de Abreu e Rosana Ferrão, mescla esquetes, personagens e versões dos próprios atores para abordar temas atuais como cultura do cancelamento, fake news, o processo de envelhecimento e os novos limites da comédia na era digital, "Não importa a idade da pessoa ou o quanto ela conhece o nosso trabalho. Todo mundo se diverte, porque a peça fala sobre o tempo que a gente vive", explica Lúcio.
Nesse contexto, em que a produção de conteúdo humorístico se pulveriza em redes sociais, podcasts e vídeos curtos, a peça reflete sobre o desafio de manter a relevância sem parecer deslocado, evitando tanto a caricatura do "tiozão do TikTok", quanto às transformações em curso na comédia. "A gente precisa entender isso sem cair naquele discurso do 'no meu tempo que era bom'", argumenta Mazzeo.
Em um daqueles acasos que a vida presenteia, a dupla revive no Teatro do Parque a amizade que seus pais viveram décadas atrás no Recife. Foi nesta cidade em que, nos anos 1950, Chico Anysio e Lúcio Mauro se encontraram pela primeira vez, na Rádio Clube de Pernambuco. Ali iniciaram uma parceria que renderia personagens memoráveis, como Da Júlia, o diretor sério, e Alberto Roberto, o ator canastrão. Mais tarde, consagraram-se na televisão com a Escolinha do Professor Raimundo, em que Lúcio dava vida ao exagerado Aldemar Vigário, enquanto Chico interpretava o mestre da classe.
A peça passou por Fortaleza e Belém, respectivas cidades-natais de Chico e Lúcio Mauro, mas é na capital pernambucana, que acolheu o encontro dos mestres e, décadas depois, recebe seus filhos, que o roteiro se completa. "Meu pai sempre dizia que Recife era uma das cidades preferidas dele no Brasil, talvez a que ele mais gostava no Nordeste", revela Mazzeo, provando que algumas risadas nunca têm endereço fixo, apenas paradas obrigatórias.