Uma tela, vários Brasis
Nada menos que 38 filmes de várias partes do país compuseram a grade do Cine-PE, lotando as plateias do Teatro do Parque e do Cinema São Luiz
Publicação: 16/06/2025 03:00
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Os filmes 'A Melhor Mãe do Mundo', 'Senhoritas', 'O Ano em que o Frevo Não Foi pra Rua' e 'Os Enforcados', exibido fora de competição, caíram nas graças do público do Cine-PE |
Bem perto de completar três décadas de história, o Cine-PE — Festival do Audiovisual ganhou uma de suas mais completas e sólidas programações dos últimos anos. Movimentando as sessões matinê do Cinema São Luiz e as noites do Teatro do Parque, a programação de 38 filmes, incluindo a competição de cinco longas brasileiros, de sete curtas pernambucanos e dos nove curtas nacionais, exploraram uma notável diversidade de temas, estilos e formatos.
A abertura contou com o novo longa da consagrada cineasta Anna Muylaert, o comovente A Melhor Mãe do Mundo, estrelado por Shirley Cruz, Seu Jorge e Luedji Luna. Explorando o drama de uma mãe fugindo do marido abusador com seus dois filhos em uma carroça, impressionou pela complexa produção, gravada nas ruas de São Paulo de forma autêntica e urgente, e pelas interpretações, sobretudo de Shirley, no papel principal, e dos pequenos Rhihanna Barbosa e Benin Ayo.
Duas cineastas pernambucanas estreantes também marcaram esta 29ª edição. Primeiro veio Mariana Soares, com o emocionante documentário O Ano em que o Frevo Não Foi pra Rua (codirigido por Bruno Mazzoco), que se debruça sobre o triste período pandêmico em que não houve carnaval no Recife e em Olinda. O público também se encantou com o talento da diretora Mykaela Plotkin e seu Senhoritas, que traz Analu Prestes e Tânia Alves como protagonistas de uma linda história sobre a redescoberta do amor e do sexo na terceira idade.
Ainda na competição de longas, o inusitado documentário Itatira, dirigido por André Luís Garcia, investiga o caso de uma histeria de alunos em uma escola do interior do Ceará, na qual começaram a surgir relatos de que o espírito de um garoto morto estava sendo visto pelas crianças. Com uma ambiência carregada, o filme explora os silêncios e o clima soturno da mata e das cavernas locais para construir sua atmosfera.
O último longa competitivo foi a comédia romântica curitibana Nem Toda História de Amor Acaba em Morte, de Bruno Costa, que traz o primeiro protagonismo de uma atriz surda do cinema brasileiro. Gabriela Grigolom encabeça essa representatividade inédita em uma trama sobre o fim de um casamento que revela uma nova experiência de vida para um triângulo amoroso.
Fora de competição, Os Enforcados, exibido no sábado, já é uma das produções mais surpreendentes do ano. Irandhir Santos e Leandra Leal, homenageada do festival, estrelam o perverso suspense dirigido por Fernando Coimbra (de O Lobo Atrás da Porta), no qual um casal de bicheiros se envolve em um emaranhado de situações perigosas no momento em que tomam uma atitude drástica. O saldo do cinema nacional e pernambucano segue em festa.