Bárbara Paz rememora desastre no RS Exibido no 3º Bonito Cinesur, o documentário "Rua do Pescador Nº 6" é uma sensível e dolorosa experiência sobre memórias levadas pelas enchentes

André Guerra

Publicação: 30/07/2025 03:00

A atriz e cineasta gaúcha ao lado de Daniela Mazzili, produtora do filme, no palco do festival (DIEGO CARDOSO/DIVULGAÇÃO)
A atriz e cineasta gaúcha ao lado de Daniela Mazzili, produtora do filme, no palco do festival

A natureza se avolumando em toda sua força de impacto visual e sonoro dão início ao documentário Rua do Pescador Nº 6, dirigido pela atriz e cineasta Bárbara Paz. Exibido na Mostra de Longas Ambientais do 3º Bonito Cinesur – Festival de Cinema Sul-Americano, no Mato Grosso do Sul, o filme relembra, através de poderosas e assustadoras imagens em preto e branco, a catástrofe que acometeu 95% das cidades do Rio Grande do Sul em 2024.

À medida em que revela, no prólogo, a fúria das águas e a devastação que ela é capaz de provocar, a narrativa vai se aproximando das pessoas afetadas pelas enchentes, das tentativas de resgate dos animais e, após a água baixar, também as memórias que se transformaram em escombros. Inicialmente sem verba e com uma equipe de seis pessoas, algumas delas que estavam ilhadas em Porto Alegre, Rua do Pescador  Nº 6 foi filmado como uma operação de guerrilha e, na montagem final, juntou essas gravações lideradas por Bárbara com arquivos da última grande enchente na região, em 1941, além de imagens que marcaram a cobertura jornalística.

“Eu senti que precisava registrar aquilo enquanto estava acontecendo. É um documento histórico que tem de ser mostrado para que não aconteça de novo. Só no ano passado, passamos por cerca de 150 desastres climáticos no mundo”, alerta. “Decidi usar o preto e branco porque minha proposta é um ensaio sobre a tragédia e tragédia não tem cor. A gente faz um distanciamento e consegue enxergar por um outro prisma aquilo tudo”, explica.

Assim como no seu aclamado doc anterior, Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, em que registrou os últimos momentos do seu marido, o cineasta argentino Hector Babenco, Bárbara opta por uma abordagem pessoal, poética e sensorial e evita transformar Rua do Pescador Nº 6 em uma reportagem. “Não queria usar letreiros e legendas, ou que eles ficassem falando deles. Queria mostrá-los, de dentro para fora. As imagens e os silêncios são muito importantes para o meu cinema”, comenta. O filme não é uma tese sobre o fim do mundo, mas um aceno para a esperança pela transformação.