Uma emoção bilíngue
Salvador Sobral e Silvia Perez Cruz dividem hoje o palco no Teatro RioMar, às 20h, na estreia nacional da turnê Sílvia & Salvador no país
Allan Lopes
Publicação: 08/08/2025 03:00
O acordo conhecido como Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, definiu uma linha imaginária no Oceano Atlântico que separava as terras recém-descobertas entre Portugal e Espanha. Naquele momento, o território que hoje corresponde ao Brasil ficou sob domínio português. Mais de cinco séculos depois, Recife mostrará uma cena bem diferente daquela antiga divisão. Hoje, às 19h, o Teatro RioMar recebe a estreia nacional da turnê que une o português Salvador Sobral e a espanhola Sílvia Pérez Cruz em uma celebração da música que atravessa fronteiras.
Em formato intimista e elegante, a apresentação traduz a afinidade musical e afetiva da dupla em um repertório centrado no álbum Sílvia & Salvador. O disco reúne composições inéditas de nomes como Jorge Drexler, sua irmã, Luísa Sobral, Lau Noah e a brasileira Dora Morelenbaum. Segundo o cantor lusitano, a diferença de idiomas nunca foi um entrave. “É um álbum bem poliglota, com faixas em francês, inglês, catalão e espanhol. Isso é muito legal porque cada língua traz possibilidades distintas de interpretação”, observa Salvador, em conversa exclusiva com o Viver.
O que se verá em cena é o desdobramento de uma parceria que começou há anos. Em Barcelona, Sílvia abriu um show de António Zambujo e chamou a atenção de Salvador, que estava na plateia. Em Lisboa, foi ela quem assistiu a um show dele — e a admiração se tornou recíproca. “Eu já estava muito influenciado por ela naquela época”, diz o cantor. Depois vieram colaborações esporádicas, um dueto nos Prêmios Goya, e, então, a certeza que aquela conexão necessitava de um registro em disco e turnê.
Em determinados momentos do espetáculo, os dois artistas se revezam em apresentações solo. Salvador Sobral, que já dividiu brevemente o palco com Martins no Recife no ano passado e é fã declarado de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e João Gilberto, considera incluir uma canção em português brasileiro nesse trecho do show. “‘Para mim, o Brasil é o berço da música, e isso fica claro na forma como as pessoas recebem e reagem à música”, diz ele, que já interpretou Canta Coração, de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando.
Diferentemente de Portugal, mais homogêneo em culturas e sotaques, o Brasil é feito de muitos Brasis. Salvador destaca as diferenças do país tupiniquim com sua terra natal, cujo território é cerca de 6 mil quilômetros quadrados menor do que o de Pernambuco. ”O carioca não tem nada a ver com o pernambucano, e eu gosto disso”, exalta. Fascinado por essa pluralidade, sobretudo a musical, o artista deseja, um dia, colaborar com Ney Matogrosso, Jards Macalé, Marina Sena, entre tantos outros.
Após o show no Recife, o português aproveitará a folga para conhecer melhor a capital antes de seguir para Brasília, onde se apresentará na próxima terça. Ao descobrir, durante a entrevista, da reabertura do Cinema São Luiz – que já havia o encantado quando assistiu a Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho – ele incluiu o local na sua lista de visitas. “Eu fiquei com uma ideia bem romântica quando assisti ao filme”, recorda. Agora, vai reafirmar que a cidade tem ainda mais poesia fora das telas.