JOãO ALBERTO 50 ANOS » A vida longe dos holofotes A simplicidade, a disciplina e a paixão por viagens pelo mundo marcam a vida íntima do colunista

Larissa Lins
larissa.lins@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 03/12/2019 03:00

O céu ainda não está claro quando João Alberto senta à mesa de seu escritório, todos os dias, no apartamento onde vive, em Boa Viagem. Na intimidade, a dedicação dele ao trabalho é parte indissociável do João companheiro, amigo, irmão. Sergipano, segundo filho de Carolina Martins Sobral e Mário Diniz Sobral, João é referência de lealdade, comprometimento e disciplina para os mais próximos. “É um irmão-pai. Ele tinha 19 anos quando nosso pai faleceu. Daí, assumiu a casa com nossa mãe, Dona Carol, ajudando a criar os cinco irmãos. O mais novo tinha somente 8 anos e João, mesmo muito jovem, assumiu todos os cuidados. Não era o pai bonzinho, era o que dava bronca. Se chegasse em casa à noite e encontrasse a TV ligada, dava carão”, conta a engenheira Maria do Carmo, irmã do colunista. Era exigente, mas gentil. Divertido, mas rigoroso. Dosando as condutas militares que adquiriu como cadete do Exército e o senso de humor próprio de sua personalidade, ele criou os irmãos como filhos. E forjou sua versão adulta assumindo o leme de casa, entre grandes responsabilidades e decisões.

“Entrei no Exército aos 15 anos, como cadete, pensando que era dono do mundo. Seria oficial e teria carreira garantida. Saí quando meu pai morreu e fiquei como arrimo da família. A solução foi prestar concurso para o Banco do Brasil”, lembra João, que, uma vez concursado, mudou-se com a família para o Recife. Na cidade, que passou a amar como sua, imprimiu seu nome no jornalismo, assistiu a mãe com o próprio trabalho e tornou possível a formação de cada um dos irmãos. “Todos nós estudamos, nos formamos. Sou o que sou graças a ele. João nos ensinou tudo sobre humildade, sobre querer aprender. Ele era duro com a gente, mas para ensinar a perseguir nosso melhor”, lembra Maria do Carmo. Ela e Márcia Sobral, radicada no Rio, são as únicas irmãs vivas de João Alberto. E é com Do Carmo que o jornalista se reúne aos domingos para conversar. “Ele é introvertido. Precisa do espaço dele, das coisas organizadas do jeito dele. Passa muito tempo sozinho, mas é muito carinhoso também. A relação de companheirismo dele com nossa mãe era muito forte, me marcou. Eles nem precisavam falar, se entendiam no olhar. Ela se sentia muito apoiada por ele, como todos nós nos sentimos”, complementa a irmã.

No dia a dia, as caminhadas na praia, as idas ao cinema e as comédias na televisão servem de lazer para João Alberto. “A paixão da vida dele é o trabalho. Eu respeito e adoro que seja assim. Sua memória, inteligência e dedicação incansável ao jornalismo são admiráveis. Quando olho para João, sinto que Deus me deu um grande presente. Uma pessoa de inteligência privilegiada e caráter irretocável”, elogia a empresária Sheila Wanderley, companheira de João Alberto há 12 anos. É ao lado dela que o colunista descobre as vivências de avô: ele “adotou” a neta Maria Eduarda, a Duda, a quem João se refere como uma de suas “maiores alegrias”. Para Sheila, a relação com a família, a admiração mútua e o respeito a suas individualidades alimentam a convivência entre eles, permeada por viagens ao redor do mundo. “Às vezes, viajando, tomamos um vinho. Mas, no geral, somos caseiros. Nas viagens, na volta dos passeios, sempre peço que ele descreva o nosso dia. Ele conta tudo o que fizemos com riqueza de detalhes: é capaz de dizer as cores das roupas de pessoas que encontramos no elevador. A memória dele, assim como a companhia, é extraordinária”, confidencia Sheila.

Há oito anos, foram Sheila e Maria do Carmo que assistiram João Alberto na recuperação de cirurgia no coração, conduzida pelo cirurgião Carlos Moraes. Diante do inesperado, mais uma vez, João exercitou a resiliência e fez grandes amigos. “Quando algo assim acontece, a admiração e a amizade se fortalecem. Eu e ele éramos amigos, convivíamos socialmente. Depois que o operei, nos aproximamos. João é um homem culto e afável. Uma pessoa simples, capaz de falar sobre os mais variados assuntos. Ele é extremamente agradável”, avalia o médico, com quem João compartilha opiniões e conselhos.

“A gente olha para trás e é muito bonito o caminho dele. Principalmente porque ele não está parando. Continua com muita energia. Com o caminhar da idade, muitas pessoas pensam em parar. Ele não. Ele vai escrever até o dia da partida. Quem tem paixão pelo que faz, ele diz sempre, faz até morrer”, conclui Maria do Carmo, certa de que amanhã, reservado em seu apartamento, o irmão vai sentar à mesa do escritório antes que o céu esteja claro... Para começar tudo outra vez.