JOãO ALBERTO 50 ANOS »
João alberto há 50 anos fazendo história
Já se passaram cinco décadas desde o início da coluna que se tornou o café da manhã dos pernambucanos e que até hoje se reinventa
texto: Raimundo Carrero
Publicação: 03/12/2019 03:00
O jornalismo atravessava uma revolução, nas décadas de 1950 e 1960. Deixava de ser pessoal e panfletário, muitas vezes arrogante e ostensivo. Tornava-se científico e objetivo, com lide, sublide, desenvolvimento da matéria, sem adjetivos e sem lirismo ou agressivo. Pautado pela informação pura e simples. O fato acima de tudo. A notícia e pronto.
O que, como, por que, quando, onde, quem – as cinco perguntas essenciais para uma boa reportagem. Cinco linhas para o lide, mais cinco para o sublide. O restante vinha no desenvolvimento da matéria. Jornalismo científico, estudado nos bancos universitários, conforme a escola norte-americana, que ditava as regras. É neste momento que desaparecem, por exemplo, um Mário Melo ou um Aníbal Fernandes, entre outros, consagrados pelo destempero do texto e, portanto, pela agressividade. Esquecia-se o iluminismo francês, de opiniões dento do texto, do J´accuse, de Emile Zola, jorrando acusações e gritos, para relatar apenas o acontecimento, com absoluta objetividade. O que também provocavam, reações, às vezes agressivas. O grito, o berro, a análise, a opinião ficavam apenas para o Editorial, escrito pelo dono da empresa ou pelo diretor. E surge a figura do articulista, intelectual ou profissional sem vínculos trabalhistas com a empresa, muitas vezes contrário à opinião da casa, o que configura uma espécie de democracia jornalística. Além do articulista, destaca-se, de forma radical, o colunista, que mistura sua opinião pessoal com a do jornal, além da informação.
Zózimo Amaral, do Jornal do Brasil, cria, então, o conceito do jornal dentro do jornal, dando maior amplitude à coluna social, que passava a ampliar, a diversificar o noticiário, antes vinculado ao “disse me disse” social, embora Altamiro Cunha fosse mais cauteloso no Jornal do Commercio, com texto ligado a uma influência proustiana com breves reflexões sobre os conflitos da burguesia. Depois da morte de Altamiro, começou a se afirmar o nome de Alex, também ligado a uma manifestação tipicamente jornalística: a crônica.
Aliás, a crônica já vinha se estabelecendo há bastante tempo, sobretudo nos jornais cariocas, e aí o jornalismo era terreno fértil para a crônica, onde se destacava desde as décadas anteriores o jornalista João do Rio, estilista literário de grande repercussão em sua época. Agora, no entanto, os jornais davam maior dimensão à crônica, sobretudo e principalmente o Jornal do Brasil, através de Alberto Dines, que contratou os serviços de Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Hélio Peregrino, por exemplo.
Zózimo Amaral
Neste quadro, no início da década de 60, João Alberto Martins Sobral, ou apenas João Alberto, ocupa um lugar importante no jornalismo brasileiro. Entra no Diario de Pernambuco para cobrir o setor de Porto e Receita Federal. O jornalista Antônio Camelo da Costa, então editor-geral e responsável pela reformulação do jornal, vê nele um repórter com grande capacidade de observação e dono de um texto caprichado, com muita clareza e conhecimento da língua portuguesa, além da habilidade para entrevistar. Além do setor tradicional, Camelo cria a coluna Jovem Guarda, que é publicada no caderno de amenidades, veiculado em tamanho tabloide, encartado no Diario aos domingos.
Naqueles dias, Roberto Carlos iniciava o seu reinado e influenciava os costumes revolucionários da juventude, no mesmo momento em que a ditadura brasileira endurecia com o AI-5. João Alberto era uma espécie de contra-ponto com leveza e elegância. Mais uma vez, Camelo interveio com a habilidade de sempre. Transformou João Alberto no colunista social do DP, em substituição a Fernando Barreto, um tanto conservador e tradicionalista. Camelo precisava de um colunista renovador na linguagem e nos costumes. Para renovar-se ainda mais, Camelo enviou o jovem jornalista para estágio com Zózimo Amaral no Jornal do Brasil que, mais uma vez, renovava o jornalismo brasileiro. Os leitores perceberam logo que alguma coisa mais forte e mais bela estava acontecendo no jornalismo do estado. João Alberto transformou-se, então, no café da manhã da sociedade pernambucana. Slogan que adotou imediatamente.
Fez-se presente em toda a vida social do estado, sobretudo nos famosos bailes à fantasia, nos luxuosos salões dos clubes sociais. Na noite do sábado de Carnaval, fazia plantão para anunciar o resultado antes dos concorrentes, sempre em companhia dos fotógrafos do DP. Extremamente responsável, correto e leal, deslocava-se com muita rapidez de um lado ao outro apresentando sua força e talento jornalístico.
Ao lado disso, colocava-se sempre próximo dos colegas de redação em qualquer momento, apoiando, comentando, divulgando todas as atividades. Até consolidar-se com a publicação das duas já famosas e necessárias agendas sociais – um nome definitivo e indispensável da história do jornalismo brasileiro.
O que, como, por que, quando, onde, quem – as cinco perguntas essenciais para uma boa reportagem. Cinco linhas para o lide, mais cinco para o sublide. O restante vinha no desenvolvimento da matéria. Jornalismo científico, estudado nos bancos universitários, conforme a escola norte-americana, que ditava as regras. É neste momento que desaparecem, por exemplo, um Mário Melo ou um Aníbal Fernandes, entre outros, consagrados pelo destempero do texto e, portanto, pela agressividade. Esquecia-se o iluminismo francês, de opiniões dento do texto, do J´accuse, de Emile Zola, jorrando acusações e gritos, para relatar apenas o acontecimento, com absoluta objetividade. O que também provocavam, reações, às vezes agressivas. O grito, o berro, a análise, a opinião ficavam apenas para o Editorial, escrito pelo dono da empresa ou pelo diretor. E surge a figura do articulista, intelectual ou profissional sem vínculos trabalhistas com a empresa, muitas vezes contrário à opinião da casa, o que configura uma espécie de democracia jornalística. Além do articulista, destaca-se, de forma radical, o colunista, que mistura sua opinião pessoal com a do jornal, além da informação.
Zózimo Amaral, do Jornal do Brasil, cria, então, o conceito do jornal dentro do jornal, dando maior amplitude à coluna social, que passava a ampliar, a diversificar o noticiário, antes vinculado ao “disse me disse” social, embora Altamiro Cunha fosse mais cauteloso no Jornal do Commercio, com texto ligado a uma influência proustiana com breves reflexões sobre os conflitos da burguesia. Depois da morte de Altamiro, começou a se afirmar o nome de Alex, também ligado a uma manifestação tipicamente jornalística: a crônica.
Aliás, a crônica já vinha se estabelecendo há bastante tempo, sobretudo nos jornais cariocas, e aí o jornalismo era terreno fértil para a crônica, onde se destacava desde as décadas anteriores o jornalista João do Rio, estilista literário de grande repercussão em sua época. Agora, no entanto, os jornais davam maior dimensão à crônica, sobretudo e principalmente o Jornal do Brasil, através de Alberto Dines, que contratou os serviços de Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Hélio Peregrino, por exemplo.
Zózimo Amaral
Neste quadro, no início da década de 60, João Alberto Martins Sobral, ou apenas João Alberto, ocupa um lugar importante no jornalismo brasileiro. Entra no Diario de Pernambuco para cobrir o setor de Porto e Receita Federal. O jornalista Antônio Camelo da Costa, então editor-geral e responsável pela reformulação do jornal, vê nele um repórter com grande capacidade de observação e dono de um texto caprichado, com muita clareza e conhecimento da língua portuguesa, além da habilidade para entrevistar. Além do setor tradicional, Camelo cria a coluna Jovem Guarda, que é publicada no caderno de amenidades, veiculado em tamanho tabloide, encartado no Diario aos domingos.
Naqueles dias, Roberto Carlos iniciava o seu reinado e influenciava os costumes revolucionários da juventude, no mesmo momento em que a ditadura brasileira endurecia com o AI-5. João Alberto era uma espécie de contra-ponto com leveza e elegância. Mais uma vez, Camelo interveio com a habilidade de sempre. Transformou João Alberto no colunista social do DP, em substituição a Fernando Barreto, um tanto conservador e tradicionalista. Camelo precisava de um colunista renovador na linguagem e nos costumes. Para renovar-se ainda mais, Camelo enviou o jovem jornalista para estágio com Zózimo Amaral no Jornal do Brasil que, mais uma vez, renovava o jornalismo brasileiro. Os leitores perceberam logo que alguma coisa mais forte e mais bela estava acontecendo no jornalismo do estado. João Alberto transformou-se, então, no café da manhã da sociedade pernambucana. Slogan que adotou imediatamente.
Fez-se presente em toda a vida social do estado, sobretudo nos famosos bailes à fantasia, nos luxuosos salões dos clubes sociais. Na noite do sábado de Carnaval, fazia plantão para anunciar o resultado antes dos concorrentes, sempre em companhia dos fotógrafos do DP. Extremamente responsável, correto e leal, deslocava-se com muita rapidez de um lado ao outro apresentando sua força e talento jornalístico.
Ao lado disso, colocava-se sempre próximo dos colegas de redação em qualquer momento, apoiando, comentando, divulgando todas as atividades. Até consolidar-se com a publicação das duas já famosas e necessárias agendas sociais – um nome definitivo e indispensável da história do jornalismo brasileiro.
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