JOãO ALBERTO 50 ANOS » O recomeço diário Profissionalismo e dedicação são os segredos para uma coluna se renovar, se manter e ser respeitada ao longo de cinco décadas

Rochelli dantas
rochelli.dantas@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 03/12/2019 03:00

“Escrever uma coluna e mantê-la atrativa ao longo de 50 anos é saber acompanhar as mudanças sem perder a originalidade e a autenticidade, fatores que permitiram a João Alberto tornar-se uma grife. Esse é um privilégio de poucos. No jornalismo impresso, significa coragem, sensibilidade, conhecimento, dedicação, resistência e sacrifícios pessoais. Essa soma resulta no reconhecimento dos leitores e na satisfação de acordar cedo, tomar o café da manhã, abrir o jornal, ver e ler o que você escreveu e recomeçar tudo de novo”. O depoimento é da colunista de política deste Diario de Pernambuco, Marisa Gibson, e descreve bem o João Alberto profissional.

Há 50 anos, a coluna é publicada ininterruptamente. Há 50 anos, ele se dedica à publicação como um pai se dedica a um filho. Há 50 anos, a busca por um furo jornalístico é incessante. Há 50 anos, o resultado pode ser conferido logo no café da manhã. Em todo esse tempo, muitas histórias foram conferidas pelos colegas que acompanham a luta diária pelas informações. Entre os que convivem com ele, algumas características são unânimes: generosidade, companheirismo e pontualidade.

O editor executivo do Diario, Vandeck Santiago, lembra um fato histórico quando, um dia, a polícia entrou na redação à procura de Geneton Moraes Neto, que escrevera um artigo sobre o filme Toda nudez será castigada (1972), de Arnaldo Jabor, que tivera a exibição interditada pela censura. “Foi proibido, o que é uma pena…”, dizia Geneton no texto. Na época, ele trabalhava à tarde, no Diario, e estudava jornalismo à noite. Quando os policiais chegaram, ele não estava mais na redação. Em seu lugar, os policiais levaram João Alberto, que era o editor do caderno em que saíra o texto. “João teve comportamento digno, tanto diante dos policiais quanto, mais tarde, diante do repórter iniciante, que foi chamado à diretoria. Lá estavam dois diretores e João, que procuraram tranquilizar Geneton: ‘Aconteceu e vai acontecer de novo. Fique tranquilo, não se assuste’”, lembra Vandeck.

Essa dedicação e primor pela informação são notadas por todos, sejam esses chefes ou colegas de trabalho. “Muitas vezes, ele trouxe informações precisas e importantes para o fechamento das edições. Muitas notas chamaram a atenção e foram pra primeira página. É isso que faz dele um dos jornalistas mais acreditados na imprensa. Além disso, a pontualidade é uma certeza. Mesmo tendo atividade intensa por conta dos compromissos noturnos, ele nunca faltou e nunca atrasou o jornal, que é uma preocupação do diretor de redação”, ressalta Ricardo Leitão, que por duas vezes foi diretor de redação do Diario de Pernambuco.

Seja no jornal impresso, na TV, no rádio ou na internet, esse lado humano e companheiro do colunista é ressaltado. A jornalista Ana Queiroz, que por anos foi produtora do programa de TV de João Alberto, lembra que a amizade dele com toda a equipe era constante. “Nas gravações itinerantes, quando íamos para a casa de algum empresário, ou a um restaurante, João sempre sentava na mesa da equipe. Alguns empresários até estranhavam, mas, ele tinha um bom relacionamento com todos”.

Seu jeito espontâneo e a forma mais próxima de lidar com as fontes foi  um dos motivos de o programa ter saído dos estúdios e se tornado itinerante. “Tínhamos muitos cenários e aí ficava mais informativo e o público gostava. Teve um São João de Caruaru que íamos todos os fins de semana de junho gravar no local. Televisão se faz para o público e João sabia disso”, diz Ana. E foi assim que, em alguns momentos, o programa ganhou destaque nacional. Entre as inúmeras histórias que ganharam destaque, está a primeira entrevista com o piloto do avião que caiu com o Raul Henry. “Dividimos a entrevista em dois dias e ele contou tudo”, relembra.