Combate ao vírus zika une Pernambuco e Escócia Parceria inédita permitiu mapeamento do genoma do vírus que circula no estado

Publicação: 22/10/2016 03:00

Cientistas tentam entender ataque ao organismo: Estudo revelou que o vírus produz uma molécula que inibe parte do sistema imunológico, dificultando que o organismo se defenda, assim como ocorre com a dengue, também transmitida pelo Aedes aegypti 
 (Julio Jacobina/DP)
Cientistas tentam entender ataque ao organismo: Estudo revelou que o vírus produz uma molécula que inibe parte do sistema imunológico, dificultando que o organismo se defenda, assim como ocorre com a dengue, também transmitida pelo Aedes aegypti

Uma pesquisa feita em parceria por cientistas de Pernambuco e da Escócia poderá representar um marco no esforço para desvendar os mistérios do zika, vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que está associado ao aumento de casos de microcefalia. Pela primeira vez, os pesquisadores conseguiram mapear o genoma do vírus zika que circula no estado. O sequenciamento coletado a partir de um paciente em 2015 mostra que a cepa é semelhante à circulante no Sudeste do Brasil e na Ásia. O estudo revela ainda que o vírus produz uma molécula que inibe parte do sistema imunológico, dificultando que o organismo se defenda, assim como ocorre com a dengue - também transmitida pelo Aedes. Dessa forma, a ciência poderá usar até drogas já desenvolvidas na tentativa de evitar esse efeito.

O genoma foi mapeado por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco e da Universidade de Glasgow, que publicaram o artigo Full genome sequence and sfRNA interferon antagonist activity of zika virus from Recife, Brazil (Sequência completa do genoma e caracterização da atividade antagonista de interferon do vírus zika do Recife, Brasil), na edição deste mês da revista PLoS Neglected Tropical Diseases.

A inibição do sistema imunológico do paciente é provocada pela partícula do vírus denominada sfRNA e pode ser a chave para a compreensão de como o zika causa a doença, caracterizada por sintomas como sintomas como febre, erupções cutâneas e conjuntivite. “Sabendo como o vírus subverte o sistema imunológico podemos testar drogas já existentes ou novas para evitar esse tipo de mecanismo e usar como terapia da infecção”, explica o pesquisador Rafael França, da Fiocruz Pernambuco, um dos autores do artigo, em entrevista à Agência Fiocruz.

A pesquisa apurou que o poder de inibição do sistema imunológico é mais forte que o do vírus da dengue. De acordo com França, o sequenciamento do vírus - que foi depositado num banco de dados de genoma público (Genbank), acessível a pesquisadores de todo o mundo - também ajudará a gerar vacinas usando técnicas de engenharia genética e kits de diagnóstico.

A intenção do grupo de pesquisa, formado por estudiosos de várias instituições, é caracterizar dezenas de genomas para verificar a evolução do vírus. O pesquisador destaca que o vírus sequenciado, por ter sido coletado de um paciente, representa melhor o que está na natureza do que um vírus replicado em laboratório. Além de Rafael França, assinam o artigo pela Fiocruz Pernambuco os pesquisadores Lindomar Pena e Marli Tenório, todos do Departamento de Virologia e Terapia Experimental. Os demais autores são profissionais das universidades de Glasgow, Yale (EUA) e Oxford (Inglaterra); da University South Bohemia (República Checa) e do Instituto Pasteur de Dakar (Senegal). (Com Solange Argenta/Fiocruz Pernambuco).

Linha do tempo

1947
O zika, vírus transmitido por mosquitos, é identificado pela primeira vez em macacos de Uganda, na África

1952
Vírus identificado em humanos em Uganda e na Tanzânia

Anos 1960 a 1980
São encontradas infecções humanas na África e na Ásia, normalmente acompanhadas de doença.

2007
O primeiro grande surto da doença causado pela infecção por zika é notificado na ilha de Yap (Micronésia), em 2007.

2015
O Brasil notifica uma associação entre a infecção pelo vírus zika e a microcefalia - problema congênito que compromete o desenvolvimento da criança - e a síndrome de Guillain-Barré, doença grave que compromete os movimentos.

Fique alerta
  • Sinais e sintomas
  • Febre
  • Erupções cutâneas
  • Conjuntivite
  • Dores nos músculos e articulações
  • Mal-estar
  • Dor de cabeça
Transmissão
  • O Aedes aegypti pica, normalmente, durante o dia, sobretudo no princípio da manhã, fim da tarde e princípio da noite
  • Também é possível que o vírus zika seja transmitido por via sexual. Outros modos de contágio, tais como transfusões de sangue, continuam sendo investigados
Números
  • 8 dias é o período que os sintomas iniciais do zika costumam durar
  • 11 mil casos já foram notificados em Pernambuco
  • 2.138 de microcafalia foram notificados no estado
  • 356 casos foram confirmados
Novas áreas de risco

Ásia

Cingapura, Tailândia, China (Sul), Índia, Bangladesh

Oceania
Austrália, Nova Zelândia, Ilhas Molucas, Nova Guiné, Ilhas Salomão, Vanuatu, Nova Caledónia, Fiji

América do Norte
Estados Unidos (Flórida, Texas e Louisiana)