Diagnóstico precoce para evitar via-crúcis

Publicação: 08/10/2016 03:00

As dores, intensas e intermináveis, atormentavam o sossego da secretária Josivane Bezerra, 39 anos. As articulações latejavam, ela tomava remédios paliativos, mas não encontrava solução definitiva. Cada dia doía mais. “Uma verdadeira peregrinação”, lembra. Foram necessários quatro especialistas e dois anos de persistência até descobrir a origem das dores: a artrite reumatoide, doença autoimune que acomete dois milhões de brasileiros e carrega um traço comum às patologias do gênero, a dificuldade de diagnóstico precoce.

Uma pesquisa realizada no ano passado pelo Instituto Ipsos e pelo laboratório Pfizer mostrou que os pacientes brasileiros demoram em média 2,1 anos e passam por mais de três médicos antes de saber o que causa tantas dores. Quanto maior a demora, maiores as chances de comprometimentos severos da qualidade de vida. Em 10 anos, metade dos acometidos abandona o emprego de tempo integral. “A artrite reumatoide afeta a sinóvia, tecido que reverte as articulações, provocando inflamações. Em especial, nas mãos e punhos, e causa edema articular”, relata a presidente da Comissão de AR da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Lícia Maria da Mota.

Entre os fatores desencadeantes estão genética, hormônios, questões ambientais e infecções. As dores acometem várias articulações ao são acompanhadas de rigidez e dificuldade de mobilização, sobretudo depois de um repouso prolongado. O tratamento é oferecido pelo SUS, mas as dificuldades de diagnóstico impedem a maioria dos pacientes de acessá-lo em tempo hábil. “São sintomas inespecíficos. Temos uma cultura de automedicação. As pessoas compram antinflamatório, analgésico e postergam a ida ao médico”, diz Lícia Mota.

O ideal seria começar o tratamento até 12 semanas após os primeiros sintomas, para evitar deformações como a que Josivane carrega no punho direito. “É como se uma faca estivesse sangrando a carne, como se o osso quisesse saltar fora da pele. Você não consegue ter paz. Bate um desespero, a pessoa entra em depressão. Eu chorava muito, me sentia inútil, pensava que ia ser aposentada, cadeirante”, afirma Josivane.

 (Anderson Freire/Esp. DP)
Josivane trabalhava, estudava e ia a festas. A artrite deixou ela reclusa. Foram sete anos sem vida profissional, por causa do acúmulo da doença com outros problemas pessoais. A doença se estabilizou ao longo dos anos. O fator emocional foi preponderante. Com o apoio da família, ela conseguiu trabalho e foi à luta. Os remédios diários hoje são passado. A última dor foi há seis meses.

“É como se uma faca estivesse sangrando a carne, como se o osso quisesse saltar fora da pele. Você não consegue ter paz”, Josivane bezerra, que sofre de artrite reumatoide. a doença atinge dois milhões de brasileiros