Um 'Uber' da medicina familiar

Publicação: 10/03/2018 09:00

O resgate da relação médico-paciente também pode ser feito com tecnologia. É o que querem provar empresas de TI de todo o mundo. Nos Estados Unidos, a Uber experimenta um modelo de serviço. Em Pernambuco, a startup Epitrack desenvolveu o Clinio. A plataforma, que propõe um “delivery de médicos”, estreou em dezembro no Recife, Olinda e Jaboatão. O modelo ainda gera polêmica e foi objeto, em fevereiro, de regulamentação do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Os médicos baixam o aplicativo e se disponibilizam a atender pacientes no entorno de onde estão. Quando alguém está doente pode acionar a plataforma e solicitar a presença do profissional em casa. O serviço funciona para casos de baixa complexidade, como febre, diarreia, resfriados e inflamações. “A ideia é fundamentada no conceito de saúde sob demanda e remete ao médico que as famílias tinham antigamente”, diz o CEO da Epitrack, Onício Leal.

Para ele, o Clinio empodera as decisões dos pacientes, sana dificuldades de acesso aos serviços e reduz os danos causados pela crise econômica, que tirou muitos beneficiários dos planos de saúde. “Nosso foco é o médico recém-formado, pois hoje o mercado já não os absorve com tanta facilidade”, informa Onício.

A consulta custa R$ 119. Do montante, 75% vão para os médicos e 25% para a Epitrack. O valor é debitado dos cartões de crédito. Até agora, cerca de 100 especialistas se cadastraram, assim como 2,1 mil pacientes. O radiologista Victor Martins, 29 anos, é um deles. “Existe a comodidade de você atender quando quiser, não ficar amarrado a horários de plantão. É um novo mercado.”

No Brasil, as plataformas têm enfrentado resistência dos conselhos de medicina. O Conselho Federal estabeleceu exigências, incluindo obrigatoriedade de que os especialistas sejam efetivamente preparados a atuar na área, que haja um diretor-técnico médico, que sejam arquivados os prontuários de atendimento e que a empresa seja inscrita no conselho regional. O CFM destaca, entretanto, que o uso do serviço é ético.

Onício afirma que a Epitrack está analisando como proceder. “Os pontos mais sensíveis da resolução são a existência de um diretor médico, pois dependemos de votação interna para eleição desse membro, e o registro do aplicativo no conselho. É uma preocupação analógica para solução digital. O Cremepe sequer tem formulário para registro de apps.” Para ele, a resolução é positiva no sentido de barrar no mercado a entrada de aventureiros.