Obstetra e mãe de primeira viagem

Publicação: 12/05/2018 03:00

Larissa Oliveira, 29 anos, já nem contabiliza a quantidade de partos que acompanhou. Da faculdade de medicina, passando pela residência em ginecologia e obstetrícia e o exercício da profissão em duas maternidades públicas, podem ter sido centenas deles. O mais impactante, porém, aconteceu há quatro meses e de uma forma diferente. Larissa saiu da condição de médica e encarou o papel de paciente, para se transformar em mãe. Rodeada de amigos, viu Murilo nascer.

No dia das mães do ano passado, ela havia anunciado a gravidez para a família. Desde o princípio, sabia que queria parto normal. “Entre o meu internato e a residência, pude acompanhar uma mudança visível na forma como os médicos lidam com o parto e a mulher nesse momento. Há oito anos, era muito comum a adoção de procedimentos desnecessários, como deixar a mãe em jejum”, lembra. Por já trabalhar em uma equipe que preconiza o parto normal, Larissa encontrou fácil informação e profissionais disponíveis. Fez até uma poupança para arcar com os altos custos. “O mais importante para mim era ter a confiança na equipe escolhida”, explica.

No último dia 4 de janeiro, ela estava em casa quando sentiu as contrações aumentarem. Chamou a doula, também amiga. E decidiu se ausentar da condição de médica para mergulhar na experiência. Acabou descobrindo que nem a formação técnica é suficiente para a realidade. “A gente tem uma expectativa, mas na hora acontece de outro jeito. Mudou completamente a minha visão de parto. Eu fiz exatamente como as mulheres que eu assisti: gritei, chorei, chamei palavrão”, conta. Mesmo antes de regressar ao trabalho, ela já sabe que algo mudou. “É um choque de realidade. Sempre fui pouco intervencionista, mas agora serei muito mais.”