Alto risco de crises epilépticas

Publicação: 09/06/2018 03:00

Os camundongos desenvolvidos pelos cientistas servem como um modelo para a infecção neonatal. Logo que nascem, os animais infectados com o vírus apresentam um desenvolvimento cerebral que passa por fases semelhantes ao do desenvolvimento do cérebro de uma criança.

“O cérebro do camundongo é diferente, mas seu desenvolvimento mimetiza uma infecção que corresponderia, em humanos, à que ocorre no segundo e no terceiro trimestres de gestação. A maior parte das infecções associadas à microcefalia ocorreram no primeiro trimestre de gravidez. Com esse modelo, podemos estudar as consequências que a infecção poderia ter ao longo da vida das crianças que não tiveram microcefalia”, explicou a neurocientista.

Segundo a pesquisadora, 90% dos camundongos estudados apresentaram crises epiléticas que, no entanto, cessaram na idade adulta. “Ainda assim, quando administramos nesses animais uma droga que estimula as convulsões, eles se mostraram mais suscetíveis que os camundongos a novas crises epiléticas. Isso significa que as crianças que aparentemente nasceram sem sequelas podem ficar mais suscetíveis a crises caso sejam expostas a estímulos que as desencadeiem”, disse Júlia.

Muitas das consequências futuras da infecção poderiam ser prevenidas se fossem melhor compreendidas, segundo Júlia Clarke. “É possível que vejamos um aumento do número de casos de sintomas de longo prazo nos próximos anos. Pretendemos utilizar nosso modelo para testar formas de prevenção e de intervenção para evitar que essas crianças tenham sequelas no futuro”, afirmou.

Os cientistas já começaram a utilizar o novo modelo para testar fármacos que possam inibir os efeitos a longo prazo da infecção. O grupo utilizou o infliximab - uma droga que inibe uma molécula relacionada à inflamação - que já foi aprovada pela FDA, a agência reguladora americana e é utilizada para tratar doenças autoimunes, artrite reumatoide e outros quadros inflamatórios. O medicamento pode ser utilizado durante a gravidez.

“Observamos que a aplicação desse fármaco reduziu em cerca de 50% o número de crises epiléticas espontâneas dos animais adolescentes e também preveniu as crises estimuladas por drogas nos animais adultos. Porém, o infliximab não evitou a perda cognitiva e os problemas motores. Ele amenizou as crises epiléticas, mas não foi capaz de reverter todo o quadro de sintomas”, disse Júlia. (Agência Estado)