Fake news elevam mortes por influenza Especialistas alertam que a desinformação está afastando as pessoas dos postos e aumentando os riscos para crianças e idosos

Publicação: 23/06/2018 03:00

Para a maioria das pessoas, será apenas um incômodo e, dentro de uma semana, sintomas como febre, dores musculares e tosse desaparecerão. Contudo, anualmente, cinco milhões de indivíduos infectados pelos vírus da influenza terão complicações sérias, e 650 mil morrerão de causas diretamente associadas à gripe. A doença é de fácil prevenção: uma dose de vacina por ano protege, em média, 50% dos que foram imunizados — o restante, mesmo se for contaminado, sofrerá sintomas menos severos.

Ainda assim, a cobertura da vacinação em todo o mundo está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, mesmo com a oferta gratuita da substância, a adesão do público-alvo à campanha nacional ficou abaixo de 80%, levando o Ministério da Saúde a prorrogá-la até a próxima sexta-feira. Especialistas alertam que a falta de informação e as fake news (notícias falsas) estão afastando as pessoas dos postos de vacinação, o que coloca em risco a saúde de crianças, idosos, pacientes de doenças crônicas, gestantes e profissionais muito expostos ao vírus, como os trabalhadores da área de saúde.

“A influenza é o quarto vírus mais importante da humanidade, atrás de HIV, hepatite B e hepatite C”, observa Filipe Froes, pesquisador e chefe da Unidade Médico Cirúrgica do Departamento de Tórax do Hospital Pulido Valente, de Lisboa. “Quando há epidemias de gripe, os hospitais ficam um caos, com muita gente procurando vacinas simultaneamente. Mas, na maior parte do tempo, as pessoas não acham que é uma doença importante. Nem entre os profissionais de saúde há essa conscientização”, lamenta Froes, que participou de um seminário para jornalistas sobre influenza em Paris, há duas semanas.

Pesquisas mostram, porém, que subestimar o potencial da gripe agrava a morbidade da doença e traz perdas econômicas consideráveis. Das seis principais causas de morte em 2015, quatro têm relação direta ou indireta com a influenza — doença cardíaca isquêmica, infecção do trato respiratório inferior, doença pulmonar obstrutiva crônica e diabetes. No Brasil, o boletim mais recente do Ministério da Saúde apontou 2.715 casos de influenza até 9 de junho, com 284 óbitos — no mesmo período do ano passado, foram 1.227 casos e 204 mortes. A mortalidade foi maior no grupo de risco, especialmente idosos com doenças crônicas.

São casos evitáveis, como indicam estudos. Um comentário publicado, neste ano, na revista The Lancet Respiratory Medicine por Ann F. Falsey, da Universidade de Rochester, e Janet E. McElhaney, do Instituto de Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina Northern Ontario, afirma que já se documentou taxa de 43% de hospitalização de idosos que vivem em residências geriátricas durante epidemias de gripe no Hemisfério Norte. Na mesma revista, uma equipe de pesquisadores liderados por Stefan Gravenstein, da Universidade de Brown, nos EUA, reportou redução de 8,5% nas internações por todas as causas de moradores desse tipo de instituição quando recebiam vacina de alta dosagem (60 microgramas de antígeno por cepa viral) contra influenza.