Riscos de epidemia são subestimados

Publicação: 23/06/2018 03:00

Pier Luigi Lopalco, professor de Higiene e Medicina Preventiva da Universidade de Pisa, na Itália, atribui parte da baixa adesão à prevenção da gripe ao próprio sucesso das vacinas. O epidemiologista acredita que, como a maioria das pessoas não presenciou as consequências dramáticas de doenças hoje praticamente erradicadas pelas campanhas de imunização, como a poliomielite, elas acabam subestimando a importância de se proteger contra doenças infecciosas.

“Quando, nos anos 1960, minha mãe estava se decidindo se me vacinava ou não contra o pólio, ela não teve nenhuma dúvida: me vacinou porque estava assustada e queria me proteger contra uma doença tão terrível. Quando eu decidi vacinar meus filhos, no fim dos anos 1990, eu estava vivendo na Itália, e o número de casos da doença era muito pequeno. Mas eu os vacinei; primeiro, porque sou profissional de saúde; segundo, porque eu queria que eles continuassem vivendo em um mundo sem pólio”, relatou, no seminário em Paris. “É incrível que, em apenas uma geração, o mundo tenha mudado tanto. Minha mãe estava assustada, e meus filhos já viviam em um mundo sem pólio. Isso é uma revolução. É uma revolução invisível, o que é um problema”, afirma. No ano passado, a Itália teve dois casos de tétano, de crianças que não foram vacinadas.

Assim como no Brasil, o governo italiano oferece a vacinação contra HPV, o que pode evitar câncer de colo de útero. Porém, o epidemiologista afirma que a cobertura é baixa. “Metade da população não está aceitando. Isso é algo estranho. Temos vacinas eficazes, mas as pessoas não querem. Falta de confiança nas vacinas e, o pior, falta de confiança nas instituições, nos médicos, nas universidades, nos pesquisadores”, lamenta. Para ele, isso, em parte, é efeito das fake news. “Grupos antivacina não são um fenômeno recente. A diferença, hoje, é que esses movimentos têm uma ferramenta muito poderosa, que é a internet. E muito facilmente espalham informações erradas. É onde está o poder deles. Espalham medo e especialmente os pais ficam muito assustados com os efeitos colaterais”, observa.

Fórmula universal
No caso da gripe, o epidemiologista Saranya Sridhar, autor de diversos artigos sobre imunização e diretor-presidente de Ciências Clínicas do setor de Vacinas de Influenza Amplamente Protetoras da Sanofi Pasteur, afirma que o próximo desafio é desenvolver uma substância universal, capaz de atacar diferentes cepas e famílias virais ao mesmo tempo e combater as mutações. Sem a necessidade de vacinar todos os anos — algo necessário hoje por causa do potencial de adaptação do micro-organismo —, a expectativa é de que a adesão à imunização aumente.