Do jardim aos pratos Flores e plantas não convencionais comestíveis (as chamadas PANCS), enriquecem a gastronomia ao proporcionar cores e sabores inusitados às receitas

texto: Larissa Lins | larissa.lins@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 21/01/2017 03:00

 (come-se.blogspot.com/Reprodução | viveirosdafazenda.com/Reprodução | maisyogo.com/Reprodução da internet)

Ora-pro-nóbis, taioba, lírio-do-brejo, serralha, amor-perfeito, flor de abóbora. Os nomes despertam curiosidade, estranhamento, alguns fazem lembrar um jardim. Não por acaso. Mas, se bem preparados e servidos, tornam-se ingredientes preciosos sobre a mesa: despertam apetite, aguçam sentidos, estimulam o paladar. São espécies de PANCS (Plantas Alimentícias Não Convencionais), folhas, raízes e flores capazes de enriquecer a culinária, mas ainda pouco populares na gastronomia local.

Muito além do apelo estético, as plantas não convencionais agregam sabor aos pratos. Algumas delas, aliás, se bastam. A hortaliça columeia-peixinho, também chamada simplesmente de peixinho, por exemplo, se transforma em petisco quando empanada e assada. Originária dos continentes asiático e europeu, adaptou-se bem ao clima brasileiro - sobretudo nas regiões mais secas - e ganhou o apelido por razões óbvias: tem sabor de peixe frito.

Há, ainda, begônias que fazem lembrar limão, capuchinhas que parecem agrião, girassóis agridoces e calêndulas picantes. É preciso investigar efeitos e usos de cada PANC, experimentá-la, associá-la a diferentes ingredientes tradicionais. Atados a estereotipos - muitos associam o uso gastronômico das plantas à fitoterapia e a receitas caseiras oriundas de crendices populares -, a versatilidade e o sabor das PANCS ainda são menos conhecidos do que gostariam seus entusiastas.

Nomes de expressão nacional como a chef Paola Carosella, autora do recém-lançado Todas as sextas (R$ 90,30) e jurada do reality show gastronômico Masterchef Brasil, Alex Atala, do paulistano D.O.M, e Helena Rizzo, do também paulistano Maní,  defendem sua inserção na gastronomia. Em prova do Masterchef dedicada ao tema, Carosella chegou a comentar o recurso: “Muita gente chama de mato. Mas, no Brasil, há um universo incrível de PANCS”. No Twitter, chegou a recomendar a nutricionista paulistana Neide Rigo, formada pela USP e referência nacional no segmento, como fonte de informação sobre os benefícios e as possibilidades sensoriais oferecidos pelas PANCS.

Rigo, que alimenta o site Come-se, maior fórum virtual dedicado à incorporação das plantas na culinária, se tornou ícone do processo de desmistificação das PANCS ao fornecer receitas e dicas de utilização nas redes sociais (@neiderigo). Ela organiza grupos que “caçam” PANCS pelas ruas do bairro City Lapa, em São Paulo, e desenvolvem receitas a partir do que conseguem colher. “A atividade completa costuma durar seis horas. Num primeiro momento temos uma introdução, depois saímos para caminhar pelas ruas do bairro, incluindo uma parada na horta comunitária. Isso pode levar cerca de três horas. Na volta, com o que colhemos, praticamos a identificação e temos um almoço ovo-lacto-vegetariano com ingredientes pouco convencionais colhidos no quintal, na horta ou trazidos do nosso sítio em Piracaia”, ela informa em seus canais virtuais. Neide Rigo acumula mais de 30 mil seguidores no Instagram.

Os custos acessíveis, o fácil cultivo doméstico, a adequação a diferentes tipos de dieta, os benefícios nutricionais e o aproveitamento de recursos naturais antes desperdiçados são algumas das principais vantagens associadas às PANCS. Protagonistas de uma tendência ainda em fase de amadurecimento na gastronomia nacional, elas têm, ironicamente, raízes antigas: põem à mesa a simbiose entre o homem e a natureza à sua volta.