CURIOSAMENTE » Grão made in Pernambuco Cafeicultores aproveitam altitude de Taquaritinga do Norte para vencer limitações climáticas e de relevo para produção

Rostand Tiago
rostandtiago@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 06/05/2017 03:00

 (Tatiana Peebles/Cortesia )

Entre cajueiros, pitombeiras e jaqueiras, em Taquaritinga do Norte, no Agreste, o café pernambucano percorre todo o seu caminho, da plantação à colheita, até chegar às xícaras. O habitat inusitado existe por uma razão. As árvores são utilizadas para fazer sombra, artigo tão necessário para um bom café quanto raro para a região.

É na fazenda Várzea de Onça que o grão responsável pela segunda bebida mais consumida do mundo (perde apenas para a água) encontra um ambiente propício para a sua produção no estado. Tatiana Peebles, encarregada por gerenciar o processo de produção, ressalta que o espaço físico dos brejos de altitude, tipo de relevo onde está situada a plantação, permite uma qualidade maior do produto. “Café precisa de altitude e sombra. Havendo ambos, a qualidade será excelente”, garante.

A fazenda é a maior produtora de café em Pernambuco, sendo responsável pela fabricação do Yaguara Ecológico, produto derivado do café Arabica typica, primeira espécie do grão a chegar ao estado e que, até os dias atuais, permanece como principal tipo cultivado.

Tatiana explica que o café pernambucano não é produzido de maneira usual. No caso da Várzea de Onça, por exemplo, mantém características pouco difundidas em tempos de produção em larga escala, como desenvolvimento lento do fruto - respeito ao tempo de produção dos açúcares naturais, intensificando o sabor - e uma colheita realizada manualmente, onde apenas os grãos maduros são retirados.  

Mesmo propiciando temperatura e altitude que possibilitam o plantio, Taquaritinga do Norte apresenta empecilhos no solo. As condições físicas impedem as tradicionais plantações em fileiras. Devido à ocorrência de árvores e pedras, ele é plantado onde há espaço, sem um sistema específico. As árvores, que são fontes de sombra, também oferecem um solo rico em matéria orgânica, outro fator apontado como diferencial do café.

Além de Taquaritinga do Norte, destacam-se Triunfo e Garanhuns, ambas no Agreste, como locais de produção significativa do grão de maneira orgânica, apesar de realizada em menor escala, comparando-se com Taquaritinga. Quantitativo, porém, longe de dar conta da demanda local. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2016, mostram que Pernambuco é responsável por apenas pouco mais de 1% de tudo que é produzido no Nordeste, onde a Bahia praticamente detém o “monopólio” produtivo do grão. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de 2011, a produção em Pernambuco atendia, na ocasião, a apenas 10% do consumo próprio. “Cafeicultor é um bicho em extinção em Pernambuco, dá para contar nos dedos os que ainda existem”, afirma Tatiana, uma das representantes da “resistência”.

Para o professor Francisco de Oliveira, do curso de agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a raridade é fruto das dificuldades para manter uma plantação do grão no estado. “A produção de café no estado é insignificante, pois muita gente desiste diante das várias dificuldades”. As condições climáticas, por exemplo, sócias principais de qualquer agricultor, não estão dando muito crédito para os cafeicultores de Pernambuco. O professor classifica a estiagem como principal empecilho não só para os cafeicultores, mas para agricultores em geral. “O café precisa de umidade e altitude. A estiagem prolongada representa o aposto disso, é a causa maior da baixa produção”, diz Francisco.

Curiosidades

Dicas do barista

Para um café de boa qualidade, é necessário que o grão possua data de torra recente, no máximo 30 dias. O café nacional apresenta a vantagem de uma torra mais nova, pois o processo de importação faz com que torras de cafés internacionais sejam mais antigas

História no Brasil

O café chegou ao Brasil há cerca de 290 anos. o coronel Francisco de Mello Palheta, a pedido do governador do estado do Grão-Pará, foi até a Guiana Francesa para contrabandear a primeira muda trazida ao país. Ela foi plantada originalmente em Belém.

Trabalho duro

Mão em vez de máquina

Além da colheita feita de grão a grão, outra forma utilizada na Várzea de Onça é arrastando a mão pelo tronco, com os frutos caindo em um balaio, sem uma seleção. Apesar de ser mais rápido, esse tipo de colheita deixa que frutos não tão maduros sejam levados, afetando o produto final.

Trimestre de colheita

A florada do café acontece, historicamente, de uma a três vezes por ano, entre janeiro e março. A colheita é feita entre o início de agosto e o fim de outubro. Para uma simples xícara de expresso são necessários cerca de 20 frutos do café.

Café P, M e G

Após ser descascado e antes de ser torrado, o café é classificado por tamanhos - variando entre 15 e 18 - facilitando a uniformidade na torra.
 
Altitude

Em Taquaritinga, a Serra da Taquara - a 1,2 mil metros acima do nível do mar - promove condições climáticas com umidade e sombra, ideais para o plantio.
 
Produção local

O café mais consumido e produzido no Brasil é o robusta ou conilon. Em Pernambuco, o arábica é o de maior produção.

Produção e consumo

O café arábica produzido no Brasil é voltado para exportação. Em 2016, o país importou quase 30 milhões de sacas de outras variedades da bebida

Só perde para a água

De acordo com dados da Organização Internacional de Café (OIC) o grão é responsável pela segunda bebida mais consumida ao redor do mundo.