Publicação: 08/10/2016 03:00
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O objetivo é cobrir a cabeça. No candomblé, chamamos de Orí o centro da cabeça, a chamada “moleira”, que é um ponto central, um chacra pelo qual entra tudo de bom e de ruim que atinge você. Mesmo dentro de uma lógica menos religiosa, mais científica, quando o cérebro morre, o seu corpo não funciona mais, a vida já não existe. Daí, inferimos que é no centro da cabeça que está a vida, o controle de tudo. É na cabeça que o ser começa. O turbante está ali para proteger essa região tão importante, em festas e cerimônias religiosas.
Há uma grande polêmica em torno do uso do turbante por mulheres brancas. Você poderia comentar um pouco o assunto?
O que se reclama, hoje, é que o turbante é uma indumentária religiosa, e, além disso, é um acessório associado à afirmação da mulher negra. Quando apenas mulheres negras usavam turbantes, isso era pejorativo. As mulheres negras eram chamadas de macumbeiras, eram motivo de gozação. E quando a mulher branca se apropria dos turbantes, aquele acessório vira algo interessante, bonito, da moda. Por quê? É uma injustiça. Além da ideia de ser usado para rituais religiosos, proteção espiritual, ele pode simbolizar uma coroa. A ideia de que as mulheres brancas começaram a usar por usar, sem consciência do que se trata, é que é problemática. É, além de um desrespeito a uma tradição religiosa, uma apropriação cultural irresponsável.
O que pensa a respeito?
Na minha opinião, bem particularmente, considerando a forma como eu lido com o mundo, com a moda, com a cultura negra, eu acho que o mais importante é cada pessoa saber o que está usando. O errado é usar um acessório de carga simbólica simplesmente por estética, sem qualquer conhecimento do que se trata. Se você não conhece esse símbolo, se não sabe do que se trata, não deveria usar. Por se tratar de um símbolo religioso, como qualquer outro símbolo religioso, requer respeito. Ou você usa de forma consciente ou não usa. Mas, se depois de entender as origens do turbante, para que ele serve, o cunho religioso associado a ele, você ainda se sente à vontade para usá-lo, então tudo bem. Use. Acho importante ter em mente que o fato de ter sido discriminada não deve me levar a discriminar ninguém. Ou isso vira uma bola de neve sem fim.