Fortaleza cultural Ícones do empoderamento negro e enraizados em rituais religiosos, os turbantes estão no centro de conflito atual em torno de mais uma apropriação estética

Larissa Lins
larissalins.pe@dabr.com.br

Publicação: 08/10/2016 03:00

 (Thiago Santos/Esp DP)
 
Símbolo da cultura negra e diretamente associado a rituais religiosos de matriz africana, o uso do turbante está - ou deveria estar - vinculado a uma reflexão madura, antes histórica do que estética, sobretudo por parte de mulheres brancas. Ferramenta de proteção em festas e cerimônias do candomblé, o adereço tem, ainda, a função de “modelar” cabelos crespos e “coroar” mulheres negras.

“Chamadas de ‘macumbeiras’ quando enfeitadas com seus turbantes, essas mulheres foram rechaçadas esteticamente durante séculos. Não se pode esperar que assistam à apropriação cultural desse símbolo, que é cultural e religioso, sem que manifestem seu ponto de vista”, explica a atriz e ativista pernambucana Dandara Pagu, líder do coletivo feminista Vaca Profana.

Por apropriação cultural, vale ressaltar, entende-se o uso de turbantes por mulheres brancas sem o conhecimento de suas raízes - especialmente as fincadas nas tradições africanas - e significado. O tema, problematizado em fóruns de discussão em todo o mundo, ecoa mais fortemente nos últimos anos, quando os turbantes atraem os holofotes em coleções de moda internacionais - a maior parte deles desfilados, em passarelas e editoriais, por modelos caucasianas.

Dandara, que ministra oficinas regulares no Recife sobre o uso de turbantes, entende que o adereço requer o mesmo respeito dedicado a outros elementos religiosos: “Não se usa um terço ou escapulário sem consciência do que aquele símbolo significa. Não se pode usá-los simplesmente por usar. O mesmo deve ocorrer com os turbantes, usados no candomblé para proteger o centro da cabeça, o Orí (cabeça)”, pondera.

A atriz e ativista tenta desviar, entretanto, de radicalismos: acredita que as mulheres brancas, ao compreenderem a simbologia associada ao adorno, podem usá-lo se continuarem a se sentir confortáveis com o que ele expressa. Muitas delas, ela reforça, abrem mão da peça pela falta de afinidade com suas raízes e acepções.

A modelo
Elionai Fonsêca tem 19 anos e atua como modelo há cerca de um ano. Uma de suas preocupações ao exercer a atividade é priorizar trabalhos ligados à valorização da estética negra e do empoderamento feminino. Elionai conhece a origem religiosa e cultural dos turbantes, também usados por sua mãe, mulher negra e de religião de raíz africana. Sente que o adereço valoriza a beleza negra e lança nova luz sobre a estética afro, antes rejeitada pela indústria da moda.

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