Casarão pode abrigar um centro para idosos
Estrutura será implantada em habitação histórica de mulher que morreu aos 100 anos sem deixar parentes em primeiro grau
Rebeca Silva
rebecasilva.pe@dabr.com.br
Publicação: 05/10/2014 03:00
Casarão colonial onde viveu a aposentada foi incorporado ao patrimônio municipal |
A história da aposentada Maria da Conceição Guedes Pereira não teve um final feliz e está longe de ser exceção. Sem familiares de primeiro grau, vivia acamada, após uma queda quando tinha 94 anos. Na época do acidente, morava com quatro cuidadores de idosos, que não a socorreram e eram suspeitos de desviar dinheiro da idosa. Em abril de 2013, Maria da Conceição morreu, aos cem anos. A casa onde morou, um casarão no estilo colonial, na Avenida Rosa e Silva, nas Graças, foi incorporada ao patrimônio da prefeitura e está fechada desde então.
O caso da idosa foi acompanhado por oito anos pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que agora quer que a casa se transforme em um Centro Municipal de Convivência de Idosos e Centro-Dia, para atividades de lazer, educação e saúde para a população com mais de 60 anos, modelo inexistente na cidade, embora esteja previsto no Estatuto do Idoso. Um inquérito cívil foi instaurado e três audiências já foram realizadas com o executivo.
Mas a proposta esbarra em questões judiciais. Em setembro do ano passado, uma pessoa que se diz parente de Maria da Conceição entrou na Justiça requerendo o espólio. O caso tramita na 2ª Vara de Sucessões e Registros Públicos do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Quando morreu, a idosa deixou um documento afirmando que gostaria que seu patrimônio fosse doado ao governo municipal.
A implantação do Centro de Convivência e Centro-Dia, de acordo com a promotora Luciana Maciel Dantas Figueiredo, poderia mudar o cenário crítico, de lotação e falta de estrutura, nas 27 Instituições de Longa Permanência do Recife para a terceira idade. Deles, apenas dois são públicos. Embora poucos saibam, segundo ela, a maioria dos idosos que vivem em asilos tem família, conforme identificou um levantamento feito em 2012 nas unidades.
“Muitos estão lá porque têm doenças como parkinson, demências, depressão ou sofreram AVC. Outros porque a família não tem condições de cuidar. Se houvesse o centro, as famílias até poderiam cuidar deles”, disse Figueiredo, acrescentando que o espaço poderia diminuir o índice de doenças.