O mito e o legado por trás de Branca Dias

Publicação: 14/12/2019 09:00

Ao se deparar com a história de uma portuguesa visionária, perseguida pela Inquisição, que veio parar no Brasil no século 16, tornando-se ancestral de milhares de brasileiros, Alexey Dodsworth decidiu transformar essa epopeia em HQ. A máscara da morte branca é baseada na lenda pernambucana de Branca Dias, a partir de estudos genealógicos, documentos e contos assombrados. O roteiro é do baiano Alexey, que teve colaboração nas artes de Isaque Sagara e capa de David Oliveira. Neste sábado, às 17h, o Museu da Cidade do Recife (Forte das Cinco Pontas, Bairro de São José) sedia o lançamento, junto com a palestra Branca Dias e outras sombras. A entrada é gratuita.

A HQ explora a figura da judia portuguesa que de fato existiu, foi encarcerada por dois anos pela Inquisição no país natal, mas conseguiu fugir para o Brasil, onde criou sua família. Abriu uma escola que ensinava mulheres a ler, e permitia manifestações religiosas de matriz africana no engenho do marido. Tudo isso fez com que a mística de bruxaria crescesse sobre ela. O que existe de registro histórico é que ela faleceu e, quatro anos depois, a Inquisição veio procurá-la em Pernambuco. Mas a lenda urbana que se criou foi que ela foi capturada e jogou seus talheres e tesouros de prata no Açude do Prata, localizado no bairro de Dois Irmãos, Zona Norte do Recife. Segundo a lenda, seu espírito continua a assombrar o lugar ainda hoje.

Para Alexey, além do valor fantástico, trata-se também da história de uma mulher poderosa, à frente de seu tempo, perseguida e apagada por forças conservadoras. “A lenda do fantasma já é bem conhecida e se reconstruiu em muitos lugares do Nordeste ao passar dos séculos. Mas acho que, de certa maneira, é um sintoma da nossa sociedade que pouquíssimas pessoas saibam quem foi a primeira mulher professora de uma escola e criadora de uma sinagoga. Uma lenda de terror urbana, que se trata também da história de um apagamento de uma mulher importante, que sofreu perseguição religiosa.”

A pesquisa da obra surgiu de um dos interesses pessoais de Alexey: o estudo de genealogias. Por acaso, ele descobriu que o casal de judeus portugueses Branca Dias e Diogo Fernandes é seu ancestral - são quinze gerações até ele. Para além de seu valor literário, com tons de terror ao estilo de mistério e macabro com inspiração em Edgar Allan Poe, a obra é também fonte sobre a história de um legado de sobrevivência e resistência.