A agonia na volta para casa

Graça Prado
graca.prado@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 24/05/2018 09:00

Paradas superlotadas, filas quilométricas, ônibus saindo dos pontos com portas abertas, revolta e muitas reclamações. Um começo de noite angustiante para quem precisou voltar para casa, ontem, e dependia do transporte coletivo. Foi assim nas principais ruas e avenidas do Recife, “inclusive sem carona” como desabafou Ivan Albuquerque, residente em Camaragibe. “Faz duas horas que estou aqui – na Praça do Derby -, criando coragem para entrar na estação, cheia de pessoas cansadas, querendo garantir um lugar pra sentar. É um retorno diferente de todos que já vivi. Complicado, difícil, mas que ninguém fez nada para evitar esse caos. Já é comum a demora do dia a dia. Não nos surpreende, porque a gente já se acostumou com a esculhambação. O pior de tudo é que não temos a quem se queixar. Agora, do nada, reduzirem a frota por causa do óleo diesel, é um absurdo”, desabafou.

O corre-corre começou no final da tarde. Na Estação Central do Metrô, por exemplo, às17h50, os coletivos que fazem a integração com a linha Circular via Imip, Príncipe, Prefeitura e Boa Vista chegavam e saíam sempre lotados, deixando os passageiros insatisfeitos. “Venho ao Centro da cidade apenas três vezes na semana e é sempre desse jeito. Me aborreço toda vez com esse empurra-empurra, a falta de respeito na hora de entrar ou sair dos carros, que andam lotado o dia todo. Como se não bastasse, o preço da passagem, enfrentar mais esse problema aí, ninguém merece”, disse o dançarino Yuri Martins, que  reside no bairro do Ibura.

Irritação
Mesma irritação viveu a funcionária do Hospital Esperança, que, impaciente, aguardava um coletivo com destino a Olinda, na parada da Rua do Sol. “Passei mais de uma hora esperando as linhas que servem para mim, como Rio Doce-Princesa Isabel e Pau Amarelo, no ponto da Rua Floriano Peixoto, e nada. Já cansada e atrasada para chegar ao trabalho, corri para cá. E do jeito que o ambiente está, com tanta gente, o primeiro que vier vai lotar. Mas eu vou de qualquer maneira, para não chegar no serviço mais tarde ainda. Graças a Deus lá vem ele”, disse Shirley, correndo para não perder  o ônibus.

Com a redução da frota dos coletivos comuns, a saída foi apelar para os BRTs. Lotadas, as estações ficaram intransitáveis no final da tarde e começo da noite. Na estação Derby, passageiros se juntaram e seguraram as portas para facilitar a entrada nos coletivos, assim que chegassem à plataforma de embarque.

Em um dos  acessos, sentada e sem noção da hora que chegaria em casa, Ana Paula, grávida de sete meses, era o retrato da desolação. “Estou muito cansada”, disse a futura mamãe. “Preciso aguardar um ônibus não muito cheio, porque não vou prejudicar meu bebê indo em pé até a Caxangá. Se eu ouvir comentários de que amanhã (hoje) isso vai se repetir, não sairei  de casa. Aviso para minha patroa que, infelizmente, não dá para me arriscar.”