CRISE DOS COMBUSTÍVEIS » O combustível para um dia de caos O terceiro dia consecutivo de paralisação dos caminhoneiros provocou transtornos em Pernambuco, que já começa a acumular prejuízos financeiros

Aline Moura
aline.moura1@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 24/05/2018 09:00

O estado virou um caldeirão, ontem, no terceiro dia da greve dos caminhoneiros, que reivindicam a queda nos preços dos combustíveis. A paralisação gerou escassez do produto nos postos de gasolina e provocou um efeito cascata que atingiu quase todos os pernambucanos, sem distinção de classe social – trabalhadores e empresários. Com menos ônibus nas ruas, os passageiros tiveram uma dose a mais de sofrimento para chegar ao trabalho e voltar para casa. Usuários de transportes públicos e motoristas enfrentaram 11 pontos de bloqueios nas estradas e aqueles que andavam no “cheiro” da gasolina tiveram de enfrentar filas quilométricas para abastecer, com receio de ficar nas ruas. Alguns postos aproveitaram o caos para majorar os preços, que chegaram a R$ 9 pelo litro de gasolina. Enquanto isso, em Brasília, quando cada um já tinha atingido sua cota de estresse e de perdas, o governo federal encerrou o dia sem fechar um acordo com a categoria, que, pela força demonstrada, tira e põe o combustível do país.

Quase todos sentem, desde 3 de julho do ano passado, um aumento frequente na gasolina (58,76%) e no diesel (59,32%), nesse período, mas foi a greve dos caminhoneiros que reforçou as queixas aleatórias e provocou um impacto em toda a cadeia produtiva. Fechou turnos de fábricas, forçou a liberação de funcionários e esvaziou parte do comércio. Os primeiros efeitos foram sentidos no início da manhã, quando, por falta de diesel, cerca de 8% dos ônibus foram retirados das ruas do Recife, número que aumentará hoje, mas o total não foi informado pelo Grande Recife Consórcio de Transporte. “Haverá inevitável diminuição do número de viagens, no horário de pico, das linhas do STPP, podendo haver ao longo do dia paralisação de algumas empresas operadoras”, diz uma nota do consórcio.

A mobilização da categoria, que é nacional, chegou a Pernambuco com força. A carga e descarga de produtos e operações portuárias em Suape sofreram os efeitos de três dias de protestos. A greve também alterou o calendário de escolas e universidades, como a Federal de Pernambuco, e prejudicou cerca de 70 voos no Aeroporto Internacional dos Guararapes/Recife.

SEM ACORDO

“O governo deixou a situação chegar nesse ponto crítico, agora precisa dar a solução”, disse o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos, Diumar Bueno. Ele fez a análise logo após participar de uma reunião com Casa Civil do governo Michel Temer. Com a popularidade em baixa, sem força política, o presidente pediu uma trégua de três dias aos caminhoneiros, mas já recebeu o ultimato de que, se não houver solução até amanhã, o país pode parar.

Diumar Bueno justificou que os caminhoneiros não podem rodar no prejuízo e cobrou a presença de um representante da Petrobras na reunião que será realizada hoje à tarde. A política de preços adotada pela Petrobras nos últimos anos, aliás, só fez reforçar os discursos políticos contra a privatização da estatal, que, mais uma vez, deve estar no centro das atenções da campanha eleitoral. Bueno reforçou que a paralisação não tem caráter político, nem econômico. “É por uma questão de sobrevivência. A categoria não aguenta mais trabalhar sem rentabilidade”, disse ele. No início da noite, o governador do estado, Paulo Câmara (PSB), endossou o argumento dos prefeitos, que temem receber a conta do combustível.

Em um outro universo, o paralelo, algumas pessoas que também sofreram com os boatos e as consequências reais da greve dos caminhoneiros conseguiam rir dos memes enviados no WhatsApp pelos amigos e familiares, com ironias aos altos preços da gasolina. Teve comparação, inclusive, com a classificação do Santa Cruz e do Náutico na Série C do Campeonato Brasileiro de futebol.