Governo vai zerar Cide para reduzir os preços Manobra do Planalto de baixar o valor do óleo diesel é para tentar acalmar a pressão dos caminhoneiros

Publicação: 23/05/2018 03:00

Em meio aos protestos de caminhoneiros que paralisaram estradas em todo o país, o governo anunciou ontem um acordo com o Congresso para baixar o preço do óleo diesel. A solução apresentada foi zerar a cobrança da Cide (uma tarifa que incide sobre os combustíveis) para o óleo diesel, o que deve provocar uma perda de R$ 2,5 bilhões de receita para o governo. Em troca, os parlamentares aprovariam o projeto que acaba com a desoneração da folha de pagamento para alguns setores, o que renderia R$ 3 bilhões para os cofres públicos.

O problema é que, mesmo com esse anúncio, os caminhoneiros prometeram continuar as paralisações. A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), que coordena os protestos, diz que a solução apresentada não resolve o problema, já que a Cide representa apenas 1% dos 27% de peso que os tributos têm no preço do diesel. “Vai reduzir no máximo uns R$ 0,05 do litro do diesel”, disse a associação, em nota.

Os protestos foram motivados pelos sucessivos aumentos no preço dos combustíveis, fruto da nova política da Petrobras de atrelar os valores do mercado interno às cotações internacionais do petróleo. Como a commodity está em alta (saiu de menos de US$ 50 o barril em julho do ano passado para cerca de US$ 80 agora), o diesel, assim como a gasolina, tem subido no mesmo ritmo.

SEM MARGEM

Mas o governo não tem muita margem para negociar. Mexer na política da Petrobras seria um sinal de ingerência política que se vem negando desde que Pedro Parente assumiu a empresa, e teria efeitos catastróficos para a estatal no mercado. Reduzir impostos foi o que restou, mas o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, deixou claro que não há espaço para isso. A troca da Cide pela votação da reoneração da folha de pagamentos foi a saída encontrada. A informação de que o governo estudava essa alternativa havia sido antecipada pelo jornalista Marcelo de Moraes, no site BR18. (Da Agência Estado)

Anúncio de queda

Mudança no preço nas refinarias:

Gasolina (litro)

De R$ 2,0867 para R$ 2,0433

Diesel (litro)

De R$ 2,3716 para R$ 2,3351

Salto nos preços

Desde o início da nova sistemática de reajustes adotada pela Petrobras, em 3 de julho do ano passado
  • Gasolina: 58,76% de reajuste
  • Diesel: 59,32% de reajuste
Confira a variação de valores nas refinarias nas últimas semanas:

Data           Preço da gasolina        Preços do diesel
                    (em R$/Litro)              (em R$/Litro)

22/Mai        2,0867                  2,3716
19/Mai        2,0680                  2,3488
18/Mai        2,0407                  2,3302
17/Mai        2,0046                  2,3082
16/Mai       1,9686                   2,2682
15/Mai        1,9330                  2,2236

Ganhos fundamentais
O governo anunciou o aumento do PIS-Cofins sobre os combustíveis em julho de 2017. Desde então, a Receita Federal arrecadou R$ 19,065 bilhões, registrando uma alta nominal de 111% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Compare a evolução de arrecadação com PIS-Cofins sobre combustíveis:

Período de arrecadação          Período de arrecadação     
(em R$ bilhão)                           (em R$ bilhão)

Ago/17      1,851                Ago/16      1,072
Set/17        2,227                Set/16       1,206
Out/17       2,784                Out/16       1,193
Nov/17       2,758                Nov/16        1,061
Dez/17       2,359                Dez/16        1,003
Jan/18       2,491                Jan/17        1,177
Fev/18       2,334                Fev/17        1,089
Mar/18      2,261                Mar/17        1,192
Total        19,065                Total        8,993

Composição do preço da gasolina para o consumidor

Segundo a Petrobras, no período entre 6 e 12 de maio, o preço da gasolina comum para os consumidores foi formado pela seguinte proporção:
  • 32% realização da Petrobras, incluindo custos e lucro
  • 29% impostos estaduais (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS)
  • 16% impostos da União (Cide, PIS/Pasep e Cofins)
  • 11% do etanol adicionado à gasolina
  • 12% se refere à distribuição e revenda