Elias Oliveira, o pioneiro nos negócios da China O comerciante de Caruaru, no Agreste pernambucano, fechou compras com o país comunista na época em que o Brasil vivia sob a tutela da ditadura militar

Luís Boaventura
ESPECIAL PARA O DIARIO
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Publicação: 19/03/2022 03:00

Catorze telefones fixos em uma mesa de escritório, no início da década de 1970, ajudaram um caruaruense a garantir o título de primeiro brasileiro a fazer negócio com a China. Nascido na zona rural da cidade, no dia 1º de maio de 1909, Elias de Oliveira Lima foi um desbravador das relações internacionais e do comércio exterior no país. Com quase nenhuma educação formal, não teve sucesso como agricultor, profissão de seus pais no Sítio Cachoeira da Onça, mas desde os 7 anos de idade já estabelecia pequenos negócios na sua região de origem.

Trabalhou no Recife, no Rio de Janeiro, mas Caruaru era a dona do seu coração. Foi com 25 anos de idade, na Princesinha do Agreste que, em 1934, Elias realizou sua primeira importação. O historiador Walmiré Dimeron fez pesquisas sobre o comerciante e afirma que essa iniciativa pioneira no Nordeste trouxe 100 máquinas de costuras da Alemanha para Caruaru. “Todas vendidas a preços inferiores do que eram praticados na capital”, garante. Isso ocorreu quatro anos depois de Elias abrir as portas do seu comércio. O armazém, que vendia quase de tudo, era muito bem localizado, atrás da Igreja da Conceição, Marco Zero de Caruaru e principal rua comercial da cidade.

Uma das pessoas responsáveis por manter preservada a memória de Elias Oliveira, falecido em 24 de agosto de 1981, é a sua neta, Ana Catarina Simoneti Monteiro. Ela conviveu com o avô somente por quatro anos, mas guarda uma vasta coleção de fotografias e reportagens publicadas sobre o comerciante. Material que alimenta as redes sociais.

“Toda vez que eu posto algo é impressionante o carinho que eu recebo, o carinho que minha família recebe. Sempre são palavras como o ‘grande visionário’, ou então ‘o grande embaixador de Caruaru’, ‘o homem dos negócios da China’, ‘um homem que estava além do seu tempo”, comenta Ana Catarina.

Entre as reportagens está uma publicada pelo Diario de Pernambuco no dia 18 de agosto de 1974. Três anos após o que Elias considerava ser o seu maior feito comercial: a importação de produtos da China. Um negócio de 30 mil dólares com uma empresa estatal, quando o Brasil nem tinha relações diplomáticas fortemente estabelecidas com o país asiático. Entre os produtos, trouxe materiais para a produção de fogos de artifício.

Dimeron lembra que, em 1971, o Brasil vivia o período da ditadura militar e as transações comerciais eram muito frias com a China comunista “porque o ponto de vista ideológico sobrepunha a isso, mas havia um esboço de negociação. Elias Oliveira fura esse bloqueio. Se antecipa e dá esse furo. Um grande furo comercial”, explica o historiador.

As portas abertas por esse caruaruense entre o Brasil e a China rendem resultados positivos até hoje. Para o professor de Relações Internacionais da Asces-Unita, Renan Assis, essa boa relação comercial veio a se consolidar por volta do ano de 2009. “Hoje a China tem grande percentual de relação comercial com o Brasil. Inclusive, é o maior parceiro que a gente tem em termos de exportação”, detalha.