PSB, PTB e PT entre tapas e beijos No xadrez político, as idas e vindas de Eduardo, Armando e Humberto podem confundir o eleitor

Franco Benites
Especial para o Diario
politica.pe@dabr.com.br

Publicação: 20/04/2014 03:00

O enredo parece de novela, com direito a rompimentos e reconciliações. Mas as idas e vindas entre os senadores Humberto Costa (PT) e Armando Monteiro (PTB) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB) fazem parte da vida real. Hoje, os dois primeiros são aliados contra o terceiro. Mas nem sempre foi assim. Os três já estiveram lado a lado com trocas de elogios constantes. Também já ocuparam trincheiras distintas, cada um defendendo o próprio nome contra os demais.

Em 2006, o então governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) indicou o seu vice, Mendonça Filho (DEM), como candidato para as eleições daquele ano. De olho no governo, Armando, Eduardo e Humberto se lançaram como opções da oposição. A fase da pré-campanha foi marcada pela intensa troca de farpas entre os três nas inserções partidárias, entrevistas e eventos públicos.

Quarto colocado nas pesquisas em 2006, Armando conviveu com boatos de que abriria mão da disputa para se aliar a Humberto, o que de fato aconteceu. Antes disso, entretanto, o petebista acusava o PT e o PSB de fazer campanhas difamatórias contra a sua candidatura. A disputa pelo apoio do então presidente Lula (PT) também foi um dos motivos que levaram os candidatos a embates verbais constantes. Mas, com Eduardo indo para o segundo turno, as rixas ficaram de lado e os três se uniram contra Mendonça.

Eleito governador, Eduardo Campos reuniu os antigos desafetos em uma ampla frente partidária. Humberto foi premiado com a Secretaria Estadual de Cidades, onde ficou de 2007 a 2010. Em 2008, o PT disputou a prefeitura do Recife com o apoio do PTB e do PSB, vencendo o pleito com João da Costa assumindo o comando da capital. Em 2010, em busca da reeleição, o socialista apostou em Armando e Humberto como candidatos ao Senado, que foram eleitos e passaram a exaltar a capacidade gestora de Eduardo. Esse, por sua vez, retribuía os elogios ao enaltecer as virtudes dos dois.

Com a gestão de João da Costa (PT) mal-avaliada em 2012, Eduardo começou a se distanciar dos petistas para pavimentar o caminho de uma candidatura do seu partido à Prefeitura do Recife. Armando então ordenou que o PTB batesse em retirada da gestão petista. Em vez de apoiar a candidatura de Humberto à prefeitura, ficou ao lado do governador e do seu indicado para a disputa, o atual prefeito Geraldo Julio (PSB). Começava uma nova temporada de críticas entre Eduardo e Armando contra Humberto e os petistas.

Nutrindo a esperança de ser escolhido por Eduardo como seu sucessor, Armando se manteve ao lado do então governador até o ano passado. No entanto, assim que percebeu que não seria o indicado para a sucessão estadual, logo trocou os elogios por uma postura mais crítica, e, aos poucos, foi se reaproximando do PT e de Humberto.

No Senado, mas sem ter voz no governo do estado e na Prefeitura do Recife, os dois agora estão unidos para tentar impedir que o PSB de Eduardo, pré-candidato a presidente da República contra a reeleição da petista Dilma Rousseff, mantenha sua recente hegemonia em Pernambuco. Difícil é saber em que direção os três vão se mover após o resultado das eleições gerais de outubro.

Saiba mais

Depoimentos

"É preciso reconhecer o papel central do governo Eduardo Campos na obtenção dessas conquistas (estaduais). Um governo animado, proativo, que se articula, que se antecipa, que valorizou a parceria com Lula na presidência"
Armando para Eduardo em evento com Lula em julho de 2007

"É muito bom governar Pernambuco e ter você como companheiro, como amigo, parceiro e incentivador"
Eduardo para Armando em evento realizado pelo Gere, em maio de 2009.

"Humberto tem experiência, talento e garra para representar nosso estado e vai ser um grande senador"
Eduardo sobre Humberto no guia eleitoral do petista em setembro de 2010

"Na vida pública é preciso fazer escolhas e saber unir forças. O trabalho junto com Eduardo fez com que a gente conquistasse muita coisa boa"
Humberto sobre Eduardo em seu guia eleitoral em setembro de 2010

"Agradeço a Armando com quem tive a melhor das relações. Não fizemos campanha de concorrentes, mas de integrantes de uma mesma força política"
Humberto sobre Armando em 4 de outubro de 2010, dia em que os dois foram eleitos para o Senado

"O Recife atrasou-se e agora tem que andar mais depressa do que Pernambuco. É por isso que o governador Eduardo Campos convocou um pernambucano extremamemente qualificado, honrado e limpo"
Armando, explicando a razão de apoiar Geraldo Julio e não Humberto Costa, em 2012

"O governador Eduardo Campos elevou demais o tom. Temos que fazer uma campanha de alto nível e não com agressões pessoais"
Humberto em crítica a Eduardo para defender Dilma, em março de 2014

"O danado é que, na política, ainda tem político que se acha patrão do povo"
Eduardo sobre Armando em março de 2014

"Dizem que sou patrão do povo. Achei que isso fosse uma autocrítica de Eduardo porque patrão do povo é quem aponta um candidato sem currículo político e diz: votem nele"
Armando sobre Eduardo em abril de 2014

Linha do tempo

2006
Como pré-candidatos ao governo estadual, Armando, Eduardo e Humberto trocam farpas constantes. O petebista abre mão da candidatura em favor do petista. Posteriormente, eles se unem ao socialista no segundo turno contra Mendonça Filho

2007
Eduardo Campos convida Humberto Costa para o cargo de secretário das Cidades. O petista fica no posto até 2010. Nesses período, a fase é de elogios mútuos

2008
O PT lança João da Costa como candidato a prefeito do Recife, com o apoio de Armando e Eduardo

2009
Fase de tranquilidade com Armando, Eduardo e Humberto unidos sob a guarda do governo federal comandado pelo PT

2010
Eduardo escolhe Humberto e Armando como seus candidatos ao Senado. Ele destaca o petebista como empresário de sucesso e o trabalho do petista como secretário das Cidades. Os elogios são retribuídos ao socialista. Eduardo é reeleito e os alidos conseguem o cargo de senador

2011
Mais uma temporada de paz e entendimento entre os Armando, Eduardo e Humberto

2012
Em vez de apoiar Humberto como candidato à prefeitura, Eduardo lança o então desconhecido Geraldo Julio como candidato pelo PSB. O petista e o socialista voltam a se estranhar. Armando deixa a gestão do PT para apoiar o projeto eduardista

2013
Eduardo e Humberto reforçam a condição de adversários. Armando se afasta do socialista de olho na disputa do governo estadual no ano seguinte

2014
Armando e Humberto se unem contra Eduardo. O socialista rotula o petebista como "patrão do povo". O senador diz que a gestão eduardista deixou a desejar em algumas áreas