Mulheres sem peso na política pernambucana Pernambuco é um dos quatro estados do país que nunca empossaram uma prefeita de capitais, governadora ou senadora

Aline Moura
alinemoura.pe@dabr.com.br

Publicação: 20/07/2014 03:00

Política em Pernambuco também se escreve com “h”, de homem. A proximidade das eleições estaduais e a lista apresentada pelos partidos para a disputa de um espaço na Câmara dos Deputados ou na Assembleia Legislativa revelam um cenário político desigual e dominado pelo sexo masculino. A mulher que “corre com lobos”, segundo as lendas, e compõe mais da metade da população do estado, segundo o IBGE, está longe de ser protagonista nos espaços de poder. Dos 26 estados da federação brasileira, além do Distrito Federal, Pernambuco está entre os quatro do país que nunca tiveram uma mulher à frente do governo do estado, no Senado ou na prefeitura da capital.

Em um levantamento feito pelo Diario, foi possível perceber uma estagnação na desenvoltura da mulher na política estadual desde a redemocratização. Do Nordeste, Pernambuco, Paraíba e Piauí nunca empossaram alguém para chamar de governadora ou senadora. Em situação semelhante, só existe um estado no Norte do país, o Amapá, reduto eleitoral de José Sarney (PMDB). Maranhão, Ceará, Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe e Bahia ultrapassaram o estado pernambucano, que se considerava vanguarda. Todos revelaram lideranças femininas que ora saíram de famílias com cacique político, ora vieram dos movimentos sociais, como Roseana Sarney (PMDB) e Heloísa Helena (PSol), respectivamente.

A escritora Raquel de Queiroz, uma apaixonada pela política, já dizia que “ser heroína era muita mão de obra”. Em Pernambuco, ao que parece, esse papel de decisão e poder continua assustando. E não há muita perspectiva de mudança nas eleições desde ano.
A chapa majoritária dos dois principais concorrentes ao governo, Paulo Câmara (PSB) e Armando Monteiro Neto (PTB), é composta apenas por homens.

As coligações comandadas por Paulo e Armando para concorrer ao mandato de deputado federal, por exemplo, também não atingiram a cota de 30% exigida pela minirreforma eleitoral de 2009. O maior chapão de Paulo Câmara tem inscritos 36 homens (72%) e 14 mulheres (28%). O de Armando Monteiro possui 31 representantes do sexo masculino (73,81%) e 11 do sexo oposto (26,19%).

Em 1553, na época que o Brasil ainda era colônia, uma mulher tornou-se pioneira em Pernambuco ao ganhar o título de “capitoa”, assumindo o comando da Capitania que seu marido, o donatário Duarte Coelho, havia recebido como doação de D. João III.
Segundo dados da Assembleia Legislativa, Brites de Albuquerque ou Dona Beatrix ficou no comando da Capitania até a maioridade do seu filho, em 1560, e não foi a única a dar orgulho à classe feminina desde aquela época. Hoje, contudo, há certa dormência no universo do batom, reforçada pelo descumprimento da legislação.

O Ministério Público Eleitoral pode analisar o Demonstrativo de Regularidade de Atos dos Partidos e sugerir a impugnação de todas as coligações e partidos que não apresentarem a quantidade de mulheres necessárias para a disputa. Mas a medida ainda passa pelo Tribunal Regional Eleitoral e cabe recurso no TSE. É considerada pelos que entendem da área muito subjetiva. Por isso o alto grau de descumprimento. Até o sábado retrasado, 13.642 candidatos se registraram para disputar as eleições, e apenas 3.955 destes eram mulheres.

Saiba mais

Legislatura atual

Governo de estado

27 governadores

2 são mulheres

Rosalba Ciarlini (DEM-RN)
Roseana Sarney (PMDB-MA)

Senado
81 senadores
9 são mulheres

Ângela Portela (PT-RR)
Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)
Lídice da Mata (PSB-BA)
Ana Rita (PT-ES)
Lúcia Vânia (PSDB-GO)
Gleisi Hoffmann (PT-PR)
Ana Amélia (PP-RS)
Maria do Carmo Alves (DEM-SE)
Kátia Abreu (PMDB-TO)

Prefeita de capital

26 prefeituras de capitais
1 somente ocupada por uma mulher

Teresa Surita (PMDB/RR)

O Brasil já teve desde a remedocratização

9 governadoras

28 senadoras

12 prefeitas de capital

4 estados jamais tiveram uma governadora, senadora ou prefeita de capital. São eles: Amapá, Paraíba, Pernambuco e Piauí

2 estados apenas já tiveram uma governadora, senadora ou prefeita de capital. São eles: Maranhão e Rio Grande do Norte