O eco das ruas na renovação do Congresso
Especialistas acham que mais da metade da Câmara será de caras novas em 2015. Parte do fenômeno pode ter a ver com desejo de mudança
Publicação: 20/07/2014 03:00
Sete em cada 10 deputados federais vão tentar permanecer no Congresso Nacional pelos próximos quatro anos. A ambição da maioria dos parlamentares, entretanto, deve esbarrar no desejo das milhões de pessoas que foram às ruas em 2013 para reivindicar, entre outros temas, renovação na política. Na análise de especialistas, os protestos do ano passado ecoarão nas urnas em outubro. A projeção inicial do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) é de que a renovação na Câmara bata recorde em comparação às últimas quatro eleições e supere a taxa de 50%.
De acordo com o Diap, 77,97% dos deputados federais serão candidatos à reeleição este ano. O percentual é praticamente o mesmo de 2010, quando 79% dos parlamentares tentaram se reeleger na Câmara. A renovação costuma ser inversamente proporcional à quantidade de deputados que tentam a renovação dos mandatos. Desta vez, no entanto, a situação tende a ser diferente, segundo levantamentos do instituto.
“Acredito que o índice de renovação será de, no mínimo, 50%. Será atípico. Nos aproximaremos dos percentuais verificados em 1990 e em 1994”, diz Antônio Augusto Queiroz, assessor parlamentar e analista político do Diap. Ele explica que o prognóstico foi feito considerando o ambiente político, o custo de campanha e os históricos anteriores.
Para Queiroz, a tendência é de que a renovação seja superior às outras reeleições por causa de dois fatores: o sentimento de necessidade de mudança e a percepção negativa que se tem dos parlamentares. “Hoje, uma pessoa que tem a vida organizada fora do parlamento não tem grandes estímulos para disputar um mandado, porque tem três custos que desaconselham a pessoa a concorrer. O primeiro é o custo de campanha, muito alto. O de imagem, já que todos olham o parlamentar com desconfiança, como alguém que só quer se dar bem. O terceiro é o desgaste do exercício do mandato, que é muito grande.”
Fragmentação
Na avaliação de Queiroz, os escândalos políticos, como o mensalão, também podem influenciar a chegada de novas caras ao Congresso. Um exemplo é o caso de 2006, quando 86% dos deputados tentaram se reeleger, mas a renovação ficou em torno de 47%.
O cientista político e professor da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RJ) Cesar Romero Jacob também acredita que a renovação no Congresso deve ser alta este ano, mas ele não atrela o fenômeno à insatisfação da sociedade. O problema, de acordo com Jacob, é a fragmentação no sistema eleitoral.
“Estamos em uma situação em que ninguém é de ninguém. A convenção nacional diz uma coisa, que não necessariamente a estadual respeita. São 30 partidos, mais de 90 coalizões com correntes políticas diversas e é difícil saber quem representa o quê atualmente”, avalia. Essa situação, segundo ele, já se via em 2006 e em 2010, mas não de forma tão profunda. Ele acredita que esse cenário, aliado ao desejo de mudança que paira sobre a população levará a um índice alto de renovação.
Disputa federal
Confira os percentuais de deputados que tentaram se reeleger, o índice de quantos efetivamente lograram êxito e a taxa de renovação da Câmara nas últimas disputas eleitorais
Ano Tentaram a reeleição Conseguiram se reeleger Índice de renovação
1990* 74,34% 51,35% 61,82%
1994** 78,92% 57,93% 54,28%
1998 86,35% 57,93% 43,86%
2002 81,09% 68,02% 44,83%
2006 86,16% 60,41% 47,95%
2010 79,33% 70,67% 44,25%
*Em 1990, Amapá e Roraima foram transformados em estados, o que aumentou em oito deputados o número de parlamentares
na Câmara
**A bancada de São Paulo cresceu de 60 para 70 deputados, levando a Câmara a ter 513 parlamentares, número atual
Fonte: Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
De acordo com o Diap, 77,97% dos deputados federais serão candidatos à reeleição este ano. O percentual é praticamente o mesmo de 2010, quando 79% dos parlamentares tentaram se reeleger na Câmara. A renovação costuma ser inversamente proporcional à quantidade de deputados que tentam a renovação dos mandatos. Desta vez, no entanto, a situação tende a ser diferente, segundo levantamentos do instituto.
“Acredito que o índice de renovação será de, no mínimo, 50%. Será atípico. Nos aproximaremos dos percentuais verificados em 1990 e em 1994”, diz Antônio Augusto Queiroz, assessor parlamentar e analista político do Diap. Ele explica que o prognóstico foi feito considerando o ambiente político, o custo de campanha e os históricos anteriores.
Para Queiroz, a tendência é de que a renovação seja superior às outras reeleições por causa de dois fatores: o sentimento de necessidade de mudança e a percepção negativa que se tem dos parlamentares. “Hoje, uma pessoa que tem a vida organizada fora do parlamento não tem grandes estímulos para disputar um mandado, porque tem três custos que desaconselham a pessoa a concorrer. O primeiro é o custo de campanha, muito alto. O de imagem, já que todos olham o parlamentar com desconfiança, como alguém que só quer se dar bem. O terceiro é o desgaste do exercício do mandato, que é muito grande.”
Fragmentação
Na avaliação de Queiroz, os escândalos políticos, como o mensalão, também podem influenciar a chegada de novas caras ao Congresso. Um exemplo é o caso de 2006, quando 86% dos deputados tentaram se reeleger, mas a renovação ficou em torno de 47%.
O cientista político e professor da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RJ) Cesar Romero Jacob também acredita que a renovação no Congresso deve ser alta este ano, mas ele não atrela o fenômeno à insatisfação da sociedade. O problema, de acordo com Jacob, é a fragmentação no sistema eleitoral.
“Estamos em uma situação em que ninguém é de ninguém. A convenção nacional diz uma coisa, que não necessariamente a estadual respeita. São 30 partidos, mais de 90 coalizões com correntes políticas diversas e é difícil saber quem representa o quê atualmente”, avalia. Essa situação, segundo ele, já se via em 2006 e em 2010, mas não de forma tão profunda. Ele acredita que esse cenário, aliado ao desejo de mudança que paira sobre a população levará a um índice alto de renovação.
Disputa federal
Confira os percentuais de deputados que tentaram se reeleger, o índice de quantos efetivamente lograram êxito e a taxa de renovação da Câmara nas últimas disputas eleitorais
Ano Tentaram a reeleição Conseguiram se reeleger Índice de renovação
1990* 74,34% 51,35% 61,82%
1994** 78,92% 57,93% 54,28%
1998 86,35% 57,93% 43,86%
2002 81,09% 68,02% 44,83%
2006 86,16% 60,41% 47,95%
2010 79,33% 70,67% 44,25%
*Em 1990, Amapá e Roraima foram transformados em estados, o que aumentou em oito deputados o número de parlamentares
na Câmara
**A bancada de São Paulo cresceu de 60 para 70 deputados, levando a Câmara a ter 513 parlamentares, número atual
Fonte: Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)