Novos áudios preocupam o Planalto Gravações entre caciques do partido governista reforçam tentativa de interferir na Lava-Jato e deixam Michel Temer apreensivo com possível revelações

Publicação: 27/05/2016 03:00

Primeiros áudios levaram à exoneração do ministro do Planejamento, Romeró Jucá (E), homem de confiança de Temer (JANE DE ARAÚJO/AGÊNCIA SENADO)
Primeiros áudios levaram à exoneração do ministro do Planejamento, Romeró Jucá (E), homem de confiança de Temer
Uma semana longa e cheia de surpresas. Desde segunda-feira, a cúpula do PMDB - partido governista e de maior bancada no Congresso Nacional - vem sendo bombardeada com a divulgação de áudios feitos pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, envolvendo nomes do primeiro escalão da legenda.
Ontem teve mais um capítulo. Novos diálogos do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e o presidente do Senado, Renan Calheiros, sugerem articulações para influenciar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato.
O áudio foi divulgado ontem pelo Jornal Hoje, da Rede Globo, que obteve gravações feitas por Machado nos dias 10 e 11 de março. As revelações já feitas e as que podem surgir preocupam o presidente interino Michel Temer. Ele estaria apreensivo com o efeito das declarações gravadas em sua base aliada no parlamento.

Em um dos trechos da conversa, Sarney cita o nome do ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Cesar Asfor Rocha, como alguém que teria proximidade com Teori. “Tem total acesso ao Teori. Muito, muito, muito, muito acesso, muito acesso. Eu preciso falar com Cesar. A única coisa com o Cesar, com o Teori é com o Cesar”, afirma Sarney.

Sarney respondia pedido de ajuda de Machado para se livrar da pressão para realizar delação premiada. “Porque realmente, se me jogarem para baixo aí... Teori ninguém consegue conversar”, disse o ex-presidente da Transpetro.

Em outra gravação, Calheiros também participa da conversa. O trio cita o advogado Eduardo Ferrão para chegar a Teori. “O Renan me fez uma lembrança que pode substituir o Cesar. O Ferrão é muito amigo do Teori”, diz Sarney. Em outro trecho do áudio, Machado afirma que uma possível delação da Odebrecht poderia implicar a presidente afastada Dilma Rousseff por causa de pagamentos ao publicitários João Santana. “A Odebrecht (...) vão abrir, vão contar tudo. Vão livrar a cara do Lula. E vão pegar a Dilma. Porque quem tratou diretamente sobre o pagamento do João Santana foi ela”, afirma Sarney. “Então eles vão fazer.
Porque isso tudo foi muito ruim pra eles. Com isso não tem jeito. Agora precisa se armar. Como vamos fazer com essa situação. A oposição não vai aceitar. Vamos ter que fazer um acordo geral com tudo isso”, diz.

PREOCUPAÇÃO
Assessores do presidente interino, Michel Temer, relatam um clima de apreensão no governo depois de receberem a informação de que o Ministério Público pode ter mais gravações feitas por Machado reforçando suspeitas de que a cúpula do PMDB estaria atuando para tentar brecar a Operação Lava-Jato.

Na segunda-feira, no mesmo dia da divulgação de gravação do ex-ministro Romero Jucá (Planejamento) com Machado em que ele sugere um pacto para barrar a Lava-Jato, o PV anunciou posição de independência no Congresso. O receio é que partidos como PSDB e DEM repitam o gesto caso as denúncias se aproximem do presidente interino. ( Da redação comFolhapress)