Relação de confiança com comunistas

Publicação: 27/08/2016 03:00

O vice-prefeito Luciano Siqueira conheceu Mércia Albuquerque ainda na década de 1960, no Movimento de Cultura Popular (MCP). Na época, ele foi levado como voluntário por seu tio, o professor Paulo Rosas. A relação de proximidade aconteceu em 1974, quando foi preso ao lado de outras lideranças do PCdoB, como João Bosco Rolemberg Côrtes, a esposa dele Ana Maria Côrtes, e Lucy Siqueira, mulher de Luciano. Os quatro foram clientes de Mércia. “Ela não media esforços, ela agia estritamente como advogada, talvez levada por um sentimento humanitário muito grande”, comenta. Mesmo reconhecendo as qualidades da advogada, Luciano e membros do partido divergiram em uma defesa.

“Em umas das audiências da Auditoria Militar, fizemos uma carta aberta ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), denunciando as torturas que sofremos. Como o presidente do Tribunal Militar negou-se a fazer constar nos autos o nosso depoimento pelas denúncias, negamos a assinar nossos depoimentos”. Mércia era contra e achava que os clientes seriam prejudicados com o gesto. “Nós dissemos que pouco importava se nós seríamos condenados ou não. Mas importava muito as denúncias das torturas, que esse era um gesto político e não jurídico”, lembra. Os comunistas mantiveram o gesto e Luciano foi um dos poucos que escaparam da condenação por falta de provas.

O comunista ainda lembra de um gesto de apoio que fez a Mércia, quando se ventilava a relação da advogada com agentes da repressão. “Sabedor desse fato, eu redigi uma carta para ela expressando minha total confiança como advogada, como lutadora”, relata o vice-prefeito. Tasso argumenta, no entanto, que a advogada chegou a mencionar esse fato em suas memórias. “Mércia relatou que tinha amigos e parentes que eram policiais. Eles a tratavam bem durante suas prisões, chegando até mesmo lhe oferecer lanches. Esse tipo de relação fez algumas pessoas terem desconfiança sobre ela”.