Sem surpresa para pernambucanos Parlamentares do estado no Congresso Nacional dizem que prisão já era esperada e comemoraram operação realizada ontem pela Polícia Federal

JÚLIA SCHIAFFARINO
julia.schiaffarino@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 20/10/2016 03:00

Humberto acredita que delação poderá deixar a base aliada em maus lençóis (Pedro França/Agência Senado)
Humberto acredita que delação poderá deixar a base aliada em maus lençóis
Único pernambucano na Comissão de Ética, responsável pelo relatório que cassou Eduardo Cunha (PMDB), o deputado federal Betinho Gomes (PSBD) afirmou que a prisão do ex-presidente da Câmara, ontem, “reforça a sensação de dever cumprido” e “demonstra que a Justiça não tem coloração partidária, acabando com a narrativa do PT de que estaria sofrendo perseguição na Lava-Jato”. Já para o ex-líder do governo Dilma Rousseff (PT), o senador Humberto Costa (PT), essa prisão “poderá deixar a base aliada em maus lençóis”, uma vez que possíveis delações do peemedebista podem levar ao comprometimento do governo Michel Temer (PMDB). “Vamos aguardar para que o Brasil conheça a verdade sobre impeachment. Acredito que as informações de Cunha podem mudar a postura de vários elementos da antiga oposição, que se comportam aqui como verdadeiros ‘santos’.”

Além de “comemorar” os pernambucanos disseram que isso já era aguardado, ainda que tenha causado surpresa entre muitos. “Cunha embarcou num trem cuja parada final era a cidade de Curitiba”, afirmou o deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMBD). Ele também reforçou a tese de Betinho Gomes, de que a prisão de Cunha enfraqueceria o discurso de “seletividade partidária”. “Com mais esse passo, a Lava-Jato se fortalece e se consolida como a maior frente de investigação contra a corrupção já ocorrida no país”.

Um dos últimos parlamentares do estado a se declarar contra o ex-presidente foi Kaio Maniçoba (PMDB), que também ontem classificou a prisão do peemedebista como algo que “fortalece a democracia”. “É importante que a Lava-Jato esteja andando, mas é ruim para o parlamento, porque nenhum colega quer que outro seja preso. Mas é importante, sim, que haja justiça”, falou do correligionário de Cunha. O deputado, assim como Jarbas, votou pela eleição de Cunha em consonância com o partido, o PMDB. Cunha teve apoio de outros cinco deputados de Pernambuco. Todos, porém, votaram pela cassação dele em setembro, o que ocasionou a perda do foro privilegiado, condição para que as investigações passassem à primeira instância, junto ao juiz Sério Moro.

Ontem, o deputado Silvio Costa (PTdoB) afirmou, na tribuna da Câmara, que a prisão de Cunha vai representar o fim do governo do presidente Michel Temer. Costa foi um dos muitos deputados da oposição que defenderam que Cunha deveria fazer uma delação premiada e contar detalhes dos esquemas de corrupção do qual é acusado de participar, como o investigado pela Lava-Jato. “Muitos deputados vão aumentar o uso de Lexotan, e eu sei que lá no Palácio do Planalto tem muita gente pedindo entrega a domicílio de calmante”, disse Costa.

O deputado Ivan Valente (PSol-SP) também afirmou que um eventual acordo de colaboração premiada de Cunha poderia prejudicar Temer. “Cunha é a delação das delações, ele, sem dúvida, pode derrubar o governo do presidente Michel Temer”, disse.

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) disse, no entanto, que a prisão representa a “queda da República” brasileira. Serraglio foi escolhido presidente da CCJ para o ano legislativo de 2016 por articulação de Cunha, quando o peemedebista ainda era presidente da Câmara. O parlamentar conseguiu o posto após fazer acordo com Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), que também queria ser presidente da comissão. (Com agências)