Delação da Odebrecht vai se tornar pública Lava-Jato prevê para fevereiro a divulgação dos relatos de pagamento de propina no Brasil e exterior

Publicação: 18/01/2017 03:00

Um dos depoimentos cruciais é o do ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht (RODRIGO FÉLIX LEAL/FUTURA PRESS)
Um dos depoimentos cruciais é o do ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht

Investigadores da Lava-Jato trabalham com a previsão de que todo o conteúdo das delações da Odebrecht seja tornado público na primeira quinzena de fevereiro. A divulgação dos relatos de 77 delatores ligados à empresa causa apreensão no mundo político, que deve ser diretamente atingido pelas investigações. A expectativa de investigadores é de que o ministro Teori Zavascki, a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, retire o sigilo dos cerca de 900 depoimentos tão logo as delações sejam homologadas. Isso deve ocorrer após o fim do recesso do Judiciário, nos primeiros dias de fevereiro.

Como relator da Lava-Jato na Corte, cabe a Teori validar as delações. Uma equipe do ministro analisa todo o material no recesso, que resultou de uma longa negociação que se estendeu durante quase todo 2016. Nos depoimentos, divulgados em áudio e vídeo, os delatores relatam propina a políticos e operadores no Brasil e exterior em troca da conquista de obras públicas, bem como o uso de contas e empresas no exterior para viabilizar pagamentos ilícitos.

De acordo com fontes, aliados próximos ao presidente da República, Michel Temer, serão diretamente atingidos pela delação da empresa, o que deve trazer turbulência política para o governo. Após a homologação dos acordos e divulgação do conteúdo, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a força-tarefa da Lava-Jato podem realizar operações e solicitar diligências, como quebra de sigilo bancário e telefônico de investigados.

A previsão é de que o processo de investigação ligado à Odebrecht seja longo, com a distribuição das investigações em vários estados brasileiros. Isso porque o pagamento de propina ocorreu para conquista de obras de todas as esferas - federal, estadual e municipal. Por isso, a investigação não ficará concentrada em Brasília ou Curitiba.

Um dos depoimentos tidos como cruciais é o do herdeiro do grupo e ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht. Considerado o “príncipe” das empreiteiras, Marcelo resistiu a aderir ao acordo de delação. Ele é o único executivo do grupo que continua preso em Curitiba (PR) mesmo após a assinatura do acordo, em dezembro. Com a delação firmada, cumprirá dez anos de pena no total. Até o final de 2017 permanecerá atrás das grades. Já o patriarca do grupo e pai de Marcelo, Emílio Odebrecht, revelou em sua delação informações de contexto e histórico da empresa. Emílio poderá passar um ano comandando a reestruturação da empresa, que se comprometeu com novas regras de compliance, antes de iniciar o cumprimento de pena em regime domiciliar. A avaliação de fontes que acompanharam os depoimentos é de que a delação da Odebrecht é politicamente “democrática”: atinge lideranças e siglas de diferentes polos da política nacional. (AE)