O último ato da queda vertiginosa do império X Empresário prodígio e um dos mais ricos do planeta, Eike Batista é agora procurado pela Interpol

Publicação: 27/01/2017 03:00

Sérgio Cabral teria recebido propina de Eike Batista (Governo RJ/Divulgação)
Sérgio Cabral teria recebido propina de Eike Batista
Até pouco tempo, Eike Batista era sinônimo de sucesso e tudo que investia parecia se transformar em cifras milionárias. Em 2010, a Revista Forbes o colocou como o homem mais rico do Brasil e o oitavo do mundo, com sua fortuna de R$ 34 bilhões. Foi casado 13 anos com a famosa atriz e modelo Luma de Oliveira e tinha na sala da sua mansão no Rio um Lamborghini, apreendido juntamente com o Porsche Cayenne pela Polícia Federal. Nos últimos três anos, o império X, letra que o empresário colocava no nome de todas as empresas por simbolizar multiplicação, começou a desmoronar e, ontem, Eike foi incluído na lista vermelha da Interpol (Polícia Internacional) - após ser formalmente declarado foragido. Ele é um dos principais alvos da Operação Eficiência, desdobramento da Calicute e da Lava-Jato que mira o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), sob alegação de ter pago propina de US$ 16,5 milhões ao peemedebista por meio de uma conta no Panamá.

Os valores foram repassados por meio de simulação de contrato de consultoria para compra de uma mina de ouro na Colômbia pelo grupo do empresário em 2011. Os recursos ilícitos foram convertidos em ações da Vale, Petrobras e Ambev. O ex-governador também é suspeito de fazer repasses que somam R$ 1 milhão para o escritório de advocacia da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo - Cabral e Adriana cumprem prisão preventiva na Operação Calicute.

Eike, que possui passaporte da União Europeia emitido pela Alemanha, embarcou para os Estados Unidos na noite da terça-feira passada. Investigadores suspeitam de que tenha havido vazamento da operação. A passagem para Nova York - só de ida - havia sido comprada naquele mesmo dia. A mulher, Flavia, e o filho caçula, viajaram na quarta-feira.

O empresário não tem curso superior - estudou apenas os primeiros cinco semestres de engenharia na Alemanha. Se tivesse sido encontrado, ocuparia uma cela para presos comuns. O advogado de Eike, Fernando Martins, afirmou que ele vai se entregar, mas não informou data.

A prisão preventiva, por suspeita de corrupção ativa, foi decretada no dia 13. O mandado, no entanto, só é expedido para os aeroportos no dia da operação, a fim de evitar vazamentos. O delegado federal Tácio Muzzi afirmou que era preciso aguardar o repatriamento de parte dos recursos antes de a ação policial ser deflagrada. Muzzi disse que a PF vai investigar se o empresário recebeu informações privilegiadas sobre a operação.

Primeiro alvo da Lava-Jato, em 2017, Eike é um forte candidato a delator. Em depoimento prestado à PF, em maio de 2016, sinalizou que estava disposto a colaborar com os investigadores - a prisão poderia acelerar esse processo - sobre suas doações para políticos. Suas contribuições somam R$ 12,6 milhões e foram distribuídas para 13 diferentes partidos entre 2006 e 2012. (Da redação com agências)

Raio-x

ALGUNS ALVOS DA OPERAÇÃO

Sérgio Cabral

O ex-governador do RJ foi preso na Operação Calicute, desdobramento da Lava-Jato, em novembro. Durante sua gestão, de acordo com a investigação, cerca de R$ 340 milhões foram distribuídos em 10 contas em paraísos fiscais no exterior. Foi o terceiro mandado de prisão preventiva expedido contra ele

Eike Batista
Investigado na primeira fase da Operação Calicute, da Lava-Jato, teve sua prisão preventiva pedida ontem. É acusado de pagar propina para conseguir facilidades em contratos no estado do Rio na gestão Cabral, inclusive através de um contrato fictício

Flávio Godinho
Apontado pelo Ministério Público Federal como braço-direito de Eike Batista no grupo EBX, foi preso ontem. O advogado é também vice-presidente de futebol do Flamengo. É investigado por corrupção ativa com o uso de contrato fictício para o pagamento de propinas do grupo X ao ex-governador.

Suzana Neves Cabral
Ex-mulher de Sérgio Cabral foi conduzida coercitivamente para prestar depoimento. Segundo o MPF, ela recebeu aos menos 13 repasses constantes do ex-governador entre 2014 e 2016.

O ESQUEMA
  • US$ 100 milhões (cerca de R$ 318 milhões) foram enviados para contas no exterior em favor de Sérgio Cabral e seus operadores de propinas
  • US$ 85 milhões (cerca de R$ 270,3 milhões) já foram recuperados e estão à disposição da Justiça brasileira. O restante dependerá de acordos internacionais para sua repatriação
  • Ao requerer a prisão preventiva de Eike, a Procuradoria esmiuçou como o empresário pagou US$ 16,5 milhões (cerca de R$ 52,4 milhões) em propina para o peemedebista, por meio da conta Golden, no Panamá
  • O MPF afirma que Eike tentou obstruir a Justiça, usando empresa de fachada, Arcádia, para repassar a propina ao ex-governador
  • No pedido de prisão preventiva de Eike, os procuradores anotam, ainda, que ele mentiu ao dizer que nunca pagou propinas a Sérgio Cabral
  • 13 vezes, ao menos, Cabral e a esposa, juntos ou separados, voaram em jatos de Eike Batista para o exterior
  • Uma operação sob suspeita revela que ele repassou pelo menos R$ 1 milhão para o escritório da advogada Adriana Ancelmo, mulher de Cabral também presa na Calicute
EIKE BATISTA - Perfil
  • Eike Fuhrken Batista nasceu em Governador Valadares (MG) em 1956
  • Filho de Eliezer Batista da Silva, ex-ministro de Minas e Energia de João Goulart e ex-presidente da Vale, e da alemã Jutta Fuhrken
  • Durante dez anos morou com os pais na Suíça, Bélgica e Alemanha, onde iniciou o curso de Engenharia Metalúrgica, na Universidade de Aachen, mas não concluiu. Com 18 anos trabalhava vendendo apólice de seguro
  • De volta ao Brasil, com 24 anos, passou a explorar ouro na Amazônia, associou-se a um garimpeiro e comprou a mina. Um ano depois tinha um patrimônio de US$ 6 milhões
  • Com a aquisição de outras minas, no início dos anos 1990, fundou a companhia TVX. Era o início de uma série de empresas batizadas com a letra X no fim
  • Em 2010, a Forbes o colocou como o homem mais rico do Brasil e o oitavo do mundo, com sua fortuna de R$ 34 bilhões
  • Em 2013 começou a queda do império X. Em junho Eike renunciou ao conselho da MPX. Em outubro a OGX deu calote de cerca de US$ 45 milhões em juros para credores. Declarou que o maior erro foi ter entrado para o mercado de ações