Personificação da política enfraquece os partidos Pouca consistência ideológica das legendas resume as disputas eleitorais em torno de "caciques"

Sérgio Montenegro
Do Blog do Diario

Publicação: 08/09/2017 03:00

Afiliação do senador Fernando Bezerra Coelho ao PMDB, na última quarta-feira , expõe novamente uma característica nefasta da política brasileira, particularmente forte em Pernambuco: o “personalismo” em substituição ao “partidarismo”. Uma rápida olhada para as duas últimas décadas mostra como a pouca consistência ideológica dos partidos levou a roda das disputas eleitorais a girarem em torno de caciques políticos em detrimento da fidelidade partidária e de conteúdos programáticos. E se aos estudiosos do cenário essa característica salta aos olhos, o eleitor mediano não faz mais qualquer distinção entre legendas. O voto é dado diretamente à pessoa, independentemente de qual sigla ela esteja filiada.

Esse “vale-tudo” personalista por vezes confere à política pernambucana um verdadeiro clima de faroeste. Uma vez que um cacique assume o comando de um partido, imediatamente ele torna-se pequeno demais para hospedar outra liderança de peso. Não é a toa que a entrada de Fernando Bezerra Coelho no PMDB se deu em meio a especulações de que lhe seria entregue o controle da legenda no Estado, em detrimento do deputado Jarbas Vasconcelos, peemedebista histórico e detentor da hegemonia na sigla por décadas. “Na política pernambucana há muito pouco espaço para o surgimento de novos líderes. Então, quando um deles se estabelece num partido, chega disposto a ‘duelar’ com qualquer outro que ameace seu domínio”, afirma o cientista político Elton Gomes.

De fato, vários confrontos clássicos estão registrados na história política recente do estado. O tiroteio mais longo e intenso aconteceu entre o próprio Jarbas e Miguel Arraes. Ao retornar do exílio, em 1979, o ex-governador, ainda filiado ao PMDB, desejava retomar o mandato cassado pelos militares em 1962, mas foi preterido em favor de Marcos Freire, candidato defendido por Jarbas em 1982. O fato distanciou os dois ex-aliados ao ponto de, alguns anos depois, Arraes deixar o PMDB e assumir o comando do PSB, à época um mero partido satélite em Pernambuco. Jarbas e Arraes passariam anos num fogo cruzado, que só terminou com a morte do socialista e os acenos de trégua feitos pelo seu neto e herdeiro político Eduardo Campos.

Outro a travar alguns bangue-bangues por hegemonia partidária, o senador Armando Monteiro (PTB) esteve dos dois lados do tiroteio. Inicialmente aliado a Jarbas Vasconcelos no início do seu primeiro governo (1995-1998), ele rompeu pouco depois, trocou o PMDB pelo PTB e montou um grupo independente de parlamentares sob seu comando. Em seguida, uniu-se ao principal opositor de Jarbas, o então governador Eduardo Campos, candidato à reeleição, em cuja chapa seria eleito senador em 2010. Logo depois, porém, Armando também se distanciava dos socialistas para se consolidar como principal adversário do candidato do PSB à sucessão de Eduardo, o atual governador Paulo Câmara (PSB).