Aécio se diz 'vítima de armação' Após vitória no Senado, tucano volta ao plenário e, apesar de atacar a Procuradoria-Geral da República, disse não sentir "ódio ou rancor"

Publicação: 19/10/2017 03:00

Após mais de 20 dias afastado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) retomou ontem o mandato, com críticas aos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do grupo J&F, e a integrantes do Ministério Público. No plenário da Casa, Aécio afirmou ser vítima de uma armação “ardilosa” e “criminosa”, preparada por “empresários inescrupulosos” e por “homens de Estado”.

Sem citar nomes, Aécio acusou Joesley e Wesley Batista, donos do grupo J&F, de enriquecerem “às custas do dinheiro público”. Disse ainda que os empresários “não tiveram qualquer constrangimento em acusar pessoas de bem na busca de um benefício de um inaceitável acordo de delação”. “O que é mais grave, contribuíram para essa trama homens de Estado, alguns tinham assento até muito pouco tempo na PGR”, completou.

Aécio afirmou que, aos poucos, considera que “parte da verdade está vindo à tona” e que “novos depoimentos, gravações que haviam sido omitidas, vão dando contorno claro às razões que levaram a essa construção criminosa”. “Irei trabalhar a cada dia, a cada instante, para provar a minha inocência.”

O tucano disse também que foi alvo de “graves ataques” nos últimos dias por parte de alguns senadores, mas que retorna à Casa “sem rancor ou ódio”. O resultado da votação de ontem foi apertado, por 44 votos a 26 - Aécio precisava de pelo menos 41 votos para derrubar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e retomar o mandato.

Aécio chegou ao Senado por volta das 17 horas desta quarta. No início da tarde, recebeu a notificação formal em sua casa sobre o resultado da votação do plenário que derrubou a decisão do STF e, em seguida, ligou para o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), para informar que iria ao Senado. “Venho acompanhado da serenidade de homens de bem. Minha história é digna de dedicação, ao longo de 40 anos, aos mineiros e ao Brasil. Estarei pronto para o debate franco e da minha parte sempre de forma respeitosa”, finalizou.

Renúncia
Presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati defendeu ontem a renúncia do senador Aécio Neves (PSDB-MG) da presidência do partido. “Eu acho que é (caso de renúncia). Porque agora ele não tem condições, dentro das circunstâncias que está, de ficar como presidente do partido. E nós precisamos ter uma solução definitiva e não provisória”, disse Tasso.

“Não trato de questões partidárias pela imprensa”, respondeu Aécio ao ser questionado por jornalistas sobre as declarações de Jereissati contra ele.

O vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), disse ontem que há um “sentimento” no PSDB para que Aécio deixe a presidência do partido. “É um ato unilateral. Mas existe um sentimento no partido de que ele deve formalizar a saída. isso é inegável. Acho que a manifestação pública que eu fiz e que o senador Tasso fez vai ter algum efeito na reflexão de Aécio Neves, mas isso não retira o caráter unilateral da decisão”, afirmou o senador.

A executiva nacional do PSDB divulgou nota ontem dizendo que os votos da bancada em favor de Aécio Neves (MG) “não implica de forma nenhuma em um juízo de valor sobre as atitudes do senador”. De acordo com a mensagem, os dez votos de tucanos favoráveis à reversão das cautelares impostas a Aécio devem-se “única e exclusivamente à nossa convicção de que todo e qualquer cidadão tem direito à ampla defesa e ao contraditório, princípios básicos do Estado Democrático de Direito”. (Agência Estado)