Temer lança Meirelles e legenda se divide MDB não "fechou" com candidatura do ex-ministro ao Planalto em evento que não empolgou a plateia

Publicação: 23/05/2018 03:00

O presidente Michel Temer anunciou ontem a desistência de concorrer a novo mandato e lançou a pré-candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) ao Palácio do Planalto. A uma plateia que não escondeu o racha do MDB, Temer pregou a união e disse que quem não concordar em assumir a campanha do exchefe da equipe econômica deve deixar a sigla.

Na tentativa de tirar a candidatura do papel, a cúpula do MDB reforçará as articulações para obter apoio de partidos que integram o chamado centrão. Na lista, estão legendas que hoje dão aval ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como o PP e o Solidariedade. Até agora, porém, as conversas não avançaram. “Digo, sem medo de errar: o Meirelles é o melhor entre os melhores. Por isso, tem todas as condições de estar não só à frente do partido, mas à frente da nossa campanha eleitoral”, afirmou Temer, em ato político na Fundação Ulysses Guimarães, onde o MDB também lançou o documento “Encontro com o Futuro”, com diretrizes para o programa de governo. “Ficarei orgulhosíssimo se um dia Meirelles for proclamado, pelo voto popular, presidente da República Federativa do Brasil.”

A candidatura do ex-ministro, porém, ainda terá de passar pelo crivo da convenção nacional do MDB, em julho, e, se não decolar, pode ser retirada. O presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), admitiu que Meirelles - hoje com menos de 1% das intenções de voto nas pesquisas eleitorais - tem prazo de 60 dias para crescer.

Impopular, Temer não participará ativamente da campanha nem subirá no palanque dos correligionários. Na noite de ontem, o presidente se reuniu com Meirelles, Jucá e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, entre outros, para traçar estratégias eleitorais, no Palácio da Alvorada.

Em conversas reservadas, pré-candidatos do MDB nos estados observam que seria um “suicídio político” colar suas imagens à rejeição do presidente. “Ele vai governar e colaborar da forma que puder. Não tem receita própria”, desconversou Jucá. “O presidente tem sete meses de governo pela frente. Há muita coisa a ser feita e ele estará totalmente dedicado a isso”, emendou Meirelles.

Atualmente, nove diretórios do MDB - entre os quais Alagoas, Ceará e Paraná - são contra a candidatura do ex-titular da Fazenda ao Planalto. Querem que o partido libere os votos para que possam fazer coligações regionais com outras legendas, como o PT, principalmente no Nordeste.

Temer reconheceu o racha na legenda, mas pediu unidade e disse esperar que Meirelles seja o único candidato no bloco de centro, possibilidade considerada remota até por seus aliados. “Pode haver divergência, que será resolvida pela convenção nacional. Mas dizer ‘Ah, eu não apoio o Meirelles’... Então, que saia do partido!”, disse ele, sem mencionar nomes.
 
Anúncio não passou empolgação
 
O anúncio de Meirelles não contou com a empolgação da plateia. Os aplausos eram tão escassos que Temer chegou a pedir mais “animação”. “Temos de animar um pouco o auditório”, conclamou. Contrários à candidatura, o presidente do Senado, Eunício de Oliveira, e seus colegas Renan Calheiros e Roberto Requião não compareceram à reunião do MDB, também marcada pela ausência de vários dirigentes estaduais.  

Temer e Meirelles chegaram juntos ao evento. Logo na entrada, um imenso banner mostrava a dupla sorridente, ao lado do slogan “Nossa União nos Fortalece”. No telão, frases contidas no documento “Encontro com o Futuro” eram exibidas a todo momento. O ato custou cerca de R$ 42 mil ao MDB.

Sem citar as denúncias das quais tem sido alvo, o presidente também disse ser vítima de “inverdades”. Argumentou, no entanto, que, mesmo com toda a crise, o MDB tem o dever de lançar um candidato e defender o governo. Na tentativa de driblar comentários de que, sem perspectiva de poder, o seu governo já acabou (argumento que o fez adiar por alguns dias a desistência da candidatura), Temer repetiu que ainda há muito por fazer. E, dirigindo-se ao ex-ministro, tentou animá-lo: “Se produzirmos um terço do que produzimos nesses dois anos, Meirelles, você vai pegar o país com uma tranquilidade absoluta.” (Agência Estado)   
 
Ciro diz que ex-ministro da Fazenda tem agenda antipovo
 
Pré-candidatos de oposição ao governo Temer reagiram ao lançamento do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles como nome do MDB para disputar a Presidência. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disse que Meirelles terá de carregar uma agenda governista “antipovo, antipobre e antinacional imposta por seu chefe”. Já o pré-candidato do Podemos, senador Álvaro Dias (PR), disse que Meirelles será julgado nas urnas no lugar de Temer.

As declarações foram dadas depois de ambos participarem de sabatina na Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, organizada pela Confederação Nacional dos Municípios. Meirelles participa hoje do mesmo evento.

Ciro disse que Meirelles é seu amigo e qualifica o debate eleitoral, mas cometeu “o maior erro da vida” ao ingressar no governo Temer e no MDB. O pré-candidato do PDT afirmou que a oposição “não permitirá” que Temer seja escondido nas campanhas de Meirelles e de Geraldo Alckmin (PSDB). “Eu eleito é a certeza de que vou revogar essa agenda antipovo, antipobre e antinacional.”

Álvaro Dias, por sua vez, afirmou que Meirelles passará pelo crivo dos eleitores na condição de indicado de Temer. “Não há como não imputar responsabilidade a quem tem participado ostensivamente dos governos que levaram o país a essa situação de tragédia política e de caos administrativo”, afirmou ele.

A ex-ministra Marina Silva, da Rede, sugeriu que Temer abdicou da disputa devido a sua impopularidade. “No caso do presidente Temer, com 3% de popularidade, dentro da margem de erro é possível que seja zero”, disse ela.