O receio das palavras de um futuro homem-bomba

Publicação: 19/02/2019 03:00

O receio de auxiliares de Jair Bolsonaro é de que, mesmo com os agradecimentos feitos pelo presidente, Gustavo Bebianno seja o que no jargão político se chama de “homem-bomba” e aja para detonar o governo e o filho do presidente. A oposição, por exemplo, vai convidá-lo para prestar depoimento. “Preciso pedir desculpas ao Brasil por ter viabilizado a candidatura de Bolsonaro. Nunca imaginei que ele seria um presidente tão fraco”, afirmou Bebianno a interlocutores no fim de semana.

Na prática, a gota d’água que levou à demissão do ministro, na sexta-feira, foi a divulgação de uma gravação na qual o presidente dizia a ele que não queria “aproximação com a TV Globo”. Foi na terça-feira da semana passada, quando Bolsonaro, ainda internado no Hospital Albert Einstein, mandou o então ministro suspender uma audiência que teria com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Carvalho.

Na mensagem, o presidente teria perguntado, segundo o site Poder 360: “Como você coloca nossos inimigos dentro de casa?”. Para Bolsonaro, a divulgação do áudio foi uma “deslealdade”. Um interlocutor de Bolsonaro confirmou o teor da mensagem de WhatsApp ao jornal O Estado de S. Paulo.

Bebianno passou o dia num hotel onde mora em Brasília, a poucos metros do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente. Ele disse que está recebendo ameaças pelo WhatsApp, que teriam iniciado neste fim de semana, depois que o imbróglio envolvendo seu nome e o governo Bolsonaro se agravou. O ministro não deu mais detalhes sobre as ameaças. Mas falou a interlocutores que já identificou algumas pessoas e vai tomar previdências.

Ontem, os filhos de Bolsonaro voltaram a atacar Bebianno nas redes sociais. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) divulgou um link de um texto que chama o ministro de “traidor” e “funcionário incompetente”. A inimizade dos dois protagonistas da crise começou ainda durante a eleição. Carlos credita a Bebianno o fato de ter perdido a chance de trabalhar ao lado do pai no Planalto. O senador Flávio Bolsonaro também tem Bebianno na mira. Ele acusa o ex-ministro de alimentar a crise envolvendo movimentações atípicas em sua conta bancária apontadas pelo Coaf.

REPERCUSSÃO

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) afirmou que a decisão do presidente Jair Bolsonaro de demitir Bebianno foi “pessoal” porque a relação entre os dois “desgastou” e ficou “insustentável”. Ela considera que a crise abriu uma ferida na relação do governo com o Congresso, mas que o vídeo de agradecimento de Bolsonaro a Bebianno “é um começo” e “demonstra hombridade”.

“A relação ali (entre Bolsonaro e Bebianno) ficou aquela coisa do casamento que está acabando, uma relação meio que insustentável. Foi uma paixão louca lá trás, os dois só andavam juntos, do café da manhã ao jantar, e de repente a relação se desgastou e aí vem o divórcio”. (Agência Estado)