Cacique que falou em "estancar sangria" sobrevive

Publicação: 30/03/2019 03:00

“Estancar a sangria”. Essa foi uma das frases proferidas por Romero Jucá, último remanescente dos amigos de Michel Temer que ainda não foi pego pelas investigações da Lava-Jato. A declaração foi feita em uma conversa de Jucá gravada com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. Os dois planejavam jogadas políticas para articular o impeachment de Dilma Rousseff e uma forma de colocar um “fim” nos avanços das investigações da operação.

O vazamento dos áudios ocasionou a queda dele no comando do Ministério do Planejamento, dias depois de ter sido nomeado por Temer, em maio de 2016. Jucá, ex-senador e presidente do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), é um dos aliados mais próximos do ex-presidente. Na eleição de 2014, Jucá declarou voto em Aécio Neves (PSDB) em vez de Dilma, da qual Temer era vice.

Recifense, nascido em 30 de novembro de 1954, Jucá é economista formado pela Universidade Católica de Pernambuco. A carreira política começou na Secretaria de Educação de Pernambuco, no cargo de diretor. O emedebista assumiu a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1986. A Comissão da Verdade o acusou, em 2015, de ser responsável pelo genocídio Yanomami, por conta da invasão de garimpeiros nas terras indígenas, que se iniciou com a criação de uma pista de pouso. Estima-se que a quantidade de índios mortos chegou à casa dos milhares.

Madeireiras
Jucá também permitiu acordos entre madeireiras e indígenas para exploração da mata nativa. Em 1996, depois de deixar a presidência da Funai, ele apresentou um projeto de lei que buscava regulamentar a exploração mineral em terras indígenas, em seu primeiro mandato como senador. Isso gerou polêmica, pois sua filha era sócia majoritária da mineradora Boa Vista, e Jucá foi acusado de legislar em benefício próprio.

Dois anos mais tarde, ele foi indicado pelo ex-presidente José Sarney para ser governador biônico do território de Roraima. Foi eleito pela primeira vez em 1994, escolhido pelo povo para assumir uma cadeira no Senado. Jucá foi reeleito por outros dois mandatos consecutivos (em 2002, pelo PSDB, e, em 2010, pelo MDB). Em 2005, foi nomeado ministro da Previdência Social no governo Lula. Após quatro meses, com denúncias de corrupção, Jucá largou o cargo. O emedebista é suspeito de estar envolvido no caso de cessão de fazendas fantasmas para pagar empréstimos do Banco da Amazônia feitos a uma empresa da qual era sócio, que somavam R$ 18 milhões. O caso prescreveu. Nas eleições para o Senado em 2018, Jucá perdeu a vaga.