Presente condena história do MDB
Os principais caciques da legenda, berço da redemocratização, estiveram presos sob acusações de corrupção e lavagem de dinheiro e se tornaram réus
Publicação: 30/03/2019 03:00
Quem viu os principais caciques do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) serem presos, semana passada, em menos de um ano sob acusação de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, pode ter dificuldade de acreditar, ou lembrar, que a legenda teve origem no movimento que enfrentou a ditadura militar e defendeu a democracia. Foi incubadora dos principais partidos políticos que se dividiram em vários espectros e dissidências. E, ainda, teve papel fundamental na Assembleia Nacional Constituinte que promulgou a “Constituição Cidadã” de 1988, que criou o presidencialismo de coalização, que viria a ser o pano de fundo para a estratégia futura da legenda.
A trajetória e as forças que dominaram o partido desde a fundação do PMDB, em 1979, já com o P devido à volta do pluripartidarismo, ajudam a compreender parte da atual crise do partido, que em 2016 voltou a se apresentar como MDB, em uma tentativa de amenizar o desgaste político dos últimos anos.
Antes da reforma partidária de 1979, só havia duas legendas no Brasil durante o regime militar: o MDB, um caldeirão que aglutinava todo tipo de oposição, de sindicato a governo, e a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que apoiava os militares, de onde saíram partidos conservadores como o PDS, de Paulo Maluf, e o PFL, de José Sarney. Antes de virar PMDB, o MDB já se dividia entre moderados e autênticos, na forma de enfrentar o regime militar. “O MDB foi criado durante a ditadura como contraponto à Arena, para dar um viés de legitimidade democrática, de vários espectros diferentes. Foi um guarda-chuva que abrigou várias lideranças em defesa da democracia”, defende o presidente do partido, o ex-senador Romero Jucá. Ele lembra que do MDB saíram lideranças, como Leonel Brizola e Tancredo Neves, além do PSDB.
O cientista político Rafael Moreira, que acaba de defender sua tese de doutorado sobre o MDB na Universidade de São Paulo (USP), conta que já em 1982, a correlação de forças desse caldeirão de lideranças que lutavam pela democracia começou a mudar, justamente quando a legenda incorporou o PP de Tancredo Neves, partido oriundo da dissidência moderada do velho MDB. Foi quando a cúpula passou a ser mais influenciada pelos militares. “O bloco Unidade comandava a legenda e capitaneou as disputas das Diretas Já com a chapa Tancredo Neves-José Sarney”, lembra. Sem as diretas, a dupla só saiu vitoriosa no Colégio Eleitoral (eleição indireta), em 1985.
Já presidente, Sarney aprovou a Emenda Constitucional 25, que flexibilizou as regras para a fundação de partidos e de fidelidade partidária. Surgiram as agremiações de esquerda: o PCB (que atuou na clandestinidade), o PCdoB e o PSB, que saíram do MDB. “Foi nesta época que começou o inchaço do PMDB que, apesar de perder membros à esquerda, cresceu em todo país”, compara Moreira. Nas eleições de 1986, o partido teve resultado acachapante: elegeu 22 dos 23 governadores, 49 senadores, 260 deputados e 953 deputados estaduais.
Segundo o pesquisador, um novo racha dividiu a legenda entre o Movimento Unidade Progressista (MUP), que reunia os remanescentes mais à esquerda e fundou o PSDB, em 1988, e aqueles que integravam o Constituinte, grupo suprapartidário com perfil de centro e direita criado para dar apoio à agenda do presidente Sarney na Constituinte, e que hoje ficou conhecido como Centrão. Foi a terceira evasão.
Hegemônico, o grupo que integrava o Constituinte, liderado pelo carismático Ulysses Guimarães, lançou o Senhor Diretas candidato a presidente nas eleições de 1989, as primeiras depois da redemocratização, que Fernando Collor (PRN) venceu. Com o impeachment do “caçador de marajás” (mote político com o qual Collor se elegeu), Itamar Franco assumiu a Presidência. “Nessa época, o PMDB se dividiu entre os governistas, liderados por Michel Temer, e os oposicionistas de Paes de Andrade. Foi quando a legenda começou uma nova fase”, explica Moreira, cuja pesquisa cobre o partido até 2002.
A partir daí, o PMDB deixou seu papel de protagonista da política nacional para atuar nos bastidores. Cresceu o espaço do partido no Executivo, mas também as críticas por práticas fisiologistas e por governar com grupos oligárquicos. “O MDB possui muitos líderes de estados menores, mas que no Senado possuem igual peso. Essa é a forma como conseguem se projetar. Com líderes regionais de expressão nacional, como Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR) e José Sarney (MA), por exemplo. Eles conseguem poder de barganha para negociar emendas, propostas e projetos e estão sempre na situação, embora nunca tenham eleito um presidente diretamente”, avalia Juliano Griebeler, cientista político do Ibmec. (Do Correio Braziliense)
Raio x
A trajetória e as forças que dominaram o partido desde a fundação do PMDB, em 1979, já com o P devido à volta do pluripartidarismo, ajudam a compreender parte da atual crise do partido, que em 2016 voltou a se apresentar como MDB, em uma tentativa de amenizar o desgaste político dos últimos anos.
Antes da reforma partidária de 1979, só havia duas legendas no Brasil durante o regime militar: o MDB, um caldeirão que aglutinava todo tipo de oposição, de sindicato a governo, e a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que apoiava os militares, de onde saíram partidos conservadores como o PDS, de Paulo Maluf, e o PFL, de José Sarney. Antes de virar PMDB, o MDB já se dividia entre moderados e autênticos, na forma de enfrentar o regime militar. “O MDB foi criado durante a ditadura como contraponto à Arena, para dar um viés de legitimidade democrática, de vários espectros diferentes. Foi um guarda-chuva que abrigou várias lideranças em defesa da democracia”, defende o presidente do partido, o ex-senador Romero Jucá. Ele lembra que do MDB saíram lideranças, como Leonel Brizola e Tancredo Neves, além do PSDB.
O cientista político Rafael Moreira, que acaba de defender sua tese de doutorado sobre o MDB na Universidade de São Paulo (USP), conta que já em 1982, a correlação de forças desse caldeirão de lideranças que lutavam pela democracia começou a mudar, justamente quando a legenda incorporou o PP de Tancredo Neves, partido oriundo da dissidência moderada do velho MDB. Foi quando a cúpula passou a ser mais influenciada pelos militares. “O bloco Unidade comandava a legenda e capitaneou as disputas das Diretas Já com a chapa Tancredo Neves-José Sarney”, lembra. Sem as diretas, a dupla só saiu vitoriosa no Colégio Eleitoral (eleição indireta), em 1985.
Já presidente, Sarney aprovou a Emenda Constitucional 25, que flexibilizou as regras para a fundação de partidos e de fidelidade partidária. Surgiram as agremiações de esquerda: o PCB (que atuou na clandestinidade), o PCdoB e o PSB, que saíram do MDB. “Foi nesta época que começou o inchaço do PMDB que, apesar de perder membros à esquerda, cresceu em todo país”, compara Moreira. Nas eleições de 1986, o partido teve resultado acachapante: elegeu 22 dos 23 governadores, 49 senadores, 260 deputados e 953 deputados estaduais.
Segundo o pesquisador, um novo racha dividiu a legenda entre o Movimento Unidade Progressista (MUP), que reunia os remanescentes mais à esquerda e fundou o PSDB, em 1988, e aqueles que integravam o Constituinte, grupo suprapartidário com perfil de centro e direita criado para dar apoio à agenda do presidente Sarney na Constituinte, e que hoje ficou conhecido como Centrão. Foi a terceira evasão.
Hegemônico, o grupo que integrava o Constituinte, liderado pelo carismático Ulysses Guimarães, lançou o Senhor Diretas candidato a presidente nas eleições de 1989, as primeiras depois da redemocratização, que Fernando Collor (PRN) venceu. Com o impeachment do “caçador de marajás” (mote político com o qual Collor se elegeu), Itamar Franco assumiu a Presidência. “Nessa época, o PMDB se dividiu entre os governistas, liderados por Michel Temer, e os oposicionistas de Paes de Andrade. Foi quando a legenda começou uma nova fase”, explica Moreira, cuja pesquisa cobre o partido até 2002.
A partir daí, o PMDB deixou seu papel de protagonista da política nacional para atuar nos bastidores. Cresceu o espaço do partido no Executivo, mas também as críticas por práticas fisiologistas e por governar com grupos oligárquicos. “O MDB possui muitos líderes de estados menores, mas que no Senado possuem igual peso. Essa é a forma como conseguem se projetar. Com líderes regionais de expressão nacional, como Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR) e José Sarney (MA), por exemplo. Eles conseguem poder de barganha para negociar emendas, propostas e projetos e estão sempre na situação, embora nunca tenham eleito um presidente diretamente”, avalia Juliano Griebeler, cientista político do Ibmec. (Do Correio Braziliense)
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