Corrupção como ponto de partida para protestos A exemplo das manifestações contra Bolsonaro este ano, escândalos na política motivaram o povo a ir às ruas contra Fernando Collor em 1992 e em 2013

Henrique Souza
politica@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 12/07/2021 03:00

Mesmo passando por uma pandemia, milhares de brasileiros têm ido às ruas em 2021 para se manifestar contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A adesão popular é a maior dos últimos tempos, inflamada pelas mais de 500 mil mortes causadas pela Covid-19 e as denúncias de corrupção no governo. Mas manifestações semelhantes não são novidade no Brasil. Basta lembrar das jornadas de junho de 2013 e o movimento dos caras-pintadas, em 1992.

Em comum entre os três momentos, é possível apontar os escândalos de corrupção da época como grandes motivadores para os atos. Em 1992 e 2021, ainda pode-se mencionar o fato de estar acontecendo uma Comissão Parlamentar de Inquérito. No primeiro caso, inclusive, a CPI de PC Farias teve papel decisivo no impeachment de Fernando Collor. O então presidente renunciou antes de ser condenado pelo Senado por crime de responsabilidade e ter os direitos políticos cassados por oito anos.

Já em 2013, o contexto foi um pouco diferente. Começou de forma mais ampla, com várias pautas envolvidas, como o aumento na tarifa dos transportes públicos, até chegar a um descontentamento geral com a política nacional. Para o cientista político Antônio Fernandes, manifestações populares podem ser fundamentais para uma possível abertura do impeachment de Bolsonaro. Por outro lado, ele acredita que o presidente ainda mantém uma base forte de apoiadores.

“Ao olharmos para a popularidade dos dois presidentes que sofreram impedimento pós-1988, em ambos os casos para que o processo se iniciasse a taxa de aprovação dos era menor que 10%. Hoje, mesmo com uma crise política, econômica e sanitária, o presidente da república foi capaz de formar uma base de sustentação parlamentar e mantém a sua popularidade na margem de 20%”, explica.

As manifestações contra o governo começaram a se intensificar a partir de maio deste ano, pedindo mais celeridade na vacinação, a prorrogação do auxílio-emergencial e o impeachment do presidente. Apesar da mobilização, o cientista político Antônio Lucena destaca que um impeachment é um processo de responsabilidade do Congresso e acredita que Bolsonaro ainda deve se manter no poder ao menos a curto prazo.

“A abertura do processo é um ato monocrático do presidente da Câmara dos Deputados. A gente precisa observar como é que isso está relacionado com o atual evento. Historicamente o Centrão tenta sugar o máximo de um presidente. Bolsonaro vai sendo sugado ao máximo pelo Centrão e apenas quando realmente não houver nenhuma condição de sustentação do presidente, essa abertura do processo de impeachment pode efetivamente acontecer”, analisa.