Pernambuco se despede de um grande político Ex-governador, ex-prefeito do Recife, ex-ministro e ex-deputado federal, Joaquim Francisco morreu ontem

Lara Torres
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Publicação: 04/08/2021 06:55

Na tarde de ontem, Pernambuco perdeu uma de suas figuras políticas mais importantes: o ex-governador de Pernambuco (1990-1994) Joaquim Francisco, que também foi prefeito do Recife por dois mandatos (1983-1985 e 1988-1990), deputado federal constituinte (1988), ministro do Interior do governo José Sarney (1989) e deputado federal por Pernambuco (1998-2006). Joaquim morreu no Real Hospital Português de Beneficência, no Recife, onde estava internado em tratamento contra um câncer de próstata. Nascido no Recife, em 14 de abril de 1948, filho de José Francisco de Melo Cavalcanti e de Creusa Arcoverde de Freitas Cavalcanti, casou com Sílvia Couceiro de Freitas Cavalcanti, com quem teve três filhas.

Em 1966, Joaquim Francisco, que era advogado, ingressou na Faculdade de Direito do Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). No mesmo ano iniciou sua carreira política filiando-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena). Um ano depois, em 1967, Joaquim Francisco tornou-se oficial-de-gabinete do governador Nilo Coelho (1967-1971), cargo que ocupou até sua formatura em 1970, quando assumiu o posto de assistente da presidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Em 1975, Joaquim Francisco deixou o instituto para se tornar presidente da Comissão de Defesa Civil de Pernambuco e, no mesmo ano, foi nomeado secretário de Trabalho e Ação Social no governo de Moura Cavalcanti (1975-1979), seu tio, permanecendo até o final de seu mandato em 1979. Durante esse período, ele também foi presidente do conselho de administração da Companhia de Habitação Popular (Cohab) e procurador judicial da Junta Comercial do estado. Em seguida, passou à iniciativa privada como diretor administrativo-financeiro da Companhia de Alumínio do Nordeste entre 1979 e 1980.

Com a reorganização política que sucedeu o fim da imposição do bipartidarismo no Brasil, forçado pelo regime militar até novembro de 1979, Joaquim Francisco se filiou ao Partido Democrático Social (PDS), legenda que sucedeu à Arena no apoio à ditadura. Foi pelo PSD que, em 1981, ele se tornou prefeito do Recife, nomeado pelo governador Roberto Magalhães.

Democracia
Em 1984, Joaquim Francisco apoiou o Diretas Já, movimento que pressionava o Congresso Nacional pela aprovação da Emenda Dante de Oliveira, instituindo eleições diretas para presidente naquele ano. Com a derrota na votação - a emenda teve 22 votos a menos que o necessário para avançar ao Senado -  a eleição foi definida pelo Colégio Eleitoral em 1985.

Joaquim Francisco apoiou Tancredo Neves, candidato da oposição que derrotou indiretamente o nome do regime militar, Paulo Maluf, mas não tomou posse, pois morreu em 21 de abril de 1985, sendo substituído por José Sarney. Ainda em 1985, Joaquim mudou-se para o Partido da Frente Liberal (PFL), onde encerrou seu mandato como prefeito do Recife com grande popularidade. Em 1986, Joaquim se lançou à candidatura de deputado federal constituinte, sendo um dos nomes mais votados do PFL, com 142.359 votos na região que era conhecida como “bolsão da pobreza”. Em 1987, licenciou-se do mandato para se tornar ministro do Interior no Governo José Sarney.

Após desentendimentos, Joaquim Francisco rompeu com o líder do PFL, o deputado baiano José Lourenço, e pregou o rompimento do partido com o Governo Sarney. Em votações relevantes, se colocou a favor do mandado de segurança coletivo, da proteção ao emprego contra a demissão sem justa causa, defendeu o aviso prévio proporcional e a pluralidade sindical, entre outras pautas.

Prefeito e Governador

Em 1988, Joaquim elegeu-se novamente prefeito do Recife, tomando posse em 1989. No ano da primeira eleição direta para presidente, apoiou Fernando Collor de Melo, candidato do Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Em 1990, desincompatibilizou-se do cargo de prefeito para concorrer ao Governo de Pernambuco pelo PFL, apoiado por um Fernando Collor já eleito, e venceu no primeiro turno com 1.238.061 votos. Conforme as suspeitas de corrupção sobre o presidente cresceram, Joaquim Francisco se distanciou do até então aliado.

Nos EUA

Após concluir o mandato, Joaquim se mudou para Washington, nos Estados Unidos, onde trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em 1995 e 1996 e, em seguida, no Banco Mundial, ao mesmo tempo em que exercia o cargo de conselheiro do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado, na gestão do ministro Luís Carlos Bresser Pereira até 1997.

De volta ao Brasil, disputou a eleição para deputado federal pelo PFL em 1998, obtendo 81.986 votos e iniciando o mandato em 1999. Reeleito em 2002, deu início ao segundo mandato em 2003, quando se transferiu para o PTB, sua legenda até 2005, quando retornou ao PFL.

Suplente
Disputando a terceira eleição para deputado federal por Pernambuco em 2006, Joaquim Francisco obteve 75 mil votos, o que lhe rendeu somente o cargo de suplente. Em janeiro de 2007, ele deixou a Câmara ao final de seu mandato e, em setembro de 2009, migrou para o PSB. Em 2010, foi primeiro suplente do senador Humberto Costa, do PT, com mais de 3 milhões de votos. Joaquim também passou pelo PSDB, partido do qual se desfiliou em 2020.