Dez anos depois, o legado contestável da Lava Jato
Força-tarefa mirou políticos e empresários, mas acumulou polêmicas e anulações de condenações na Justiça. Hoje, seus principais personagens estão na política
Publicação: 18/03/2024 03:00
Dez anos depois, a Operação Lava Jato segue com controvérsias sobre seus desdobramentos e reveses do Supremo Tribunal Federal (STF). Na avaliação de especialistas, o saldo da força-tarefa é negativo, com destaque para abusos cometidos por parte de agentes públicos e pretensões políticas por trás da operação vendida como a maior do país no combate à corrupção.
Para o professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma (EUA) Fabio de Sá e Silva, é preciso analisar os impactos negativos da Lava Jato. “Ajudou a causar recessão econômica, foi pródiga na violação da lei e de direitos e garantias processuais e pavimentou o caminho para a ascensão da extrema-direita. Não por acaso, é nesse ponto do espectro político que estão seus principais protagonistas”, disse.
Segundo Silva, os principais personagens da Lava Jato trocaram de lugar na história. “Antes eram combatentes da impunidade. Hoje, são símbolos dela. Degradaram as instituições da justiça, violaram a lei, e saíram pela porta da frente, sem terem respondido a contento por suas condutas. Vivem da mesma política que demonizaram”, avaliou.
O cientista político e advogado constitucionalista Nauê Bernardo de Azevedo também destaca um saldo ruim. “Várias empresas quebraram, tivemos problemas políticos gravíssimos. Serviu para alimentar o sentimento de anti-política na população brasileira, agentes navegaram politicamente e acabaram indo para o Parlamento”, ressaltou.
Impacto
O cientista político Rafael Rodrigues Viegas, doutor em Administração Pública e Governo pela Fundação FGV-SP e presidente do Observatório do Controle, afirma que a Lava Jato foi marcada por suas metodologias e disfunções observadas nos órgãos de controle como Polícia Federal, MPF e Justiça Federal.
“Parcialidade, uso indevido e midiático de ferramentas de direito penal e processual penal como meio de coação para delações premiadas, e vazamentos seletivos de informações são exemplos das ilegalidades”, disse.
Viegas tece críticas sobre a atuação dos agentes públicos diante da força-tarefa. Para ele, a operação teve influência direta em eventos políticos históricos como o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. “A Lava Jato é, sem dúvida, um evento político e midiático, de defesa de interesses corporativos. Uma operação que afetou o funcionamento do Estado e da democracia brasileira. Procuradores instrumentalizaram estratégica e politicamente mecanismos da Justiça combinando com a exploração midiática a fim de maximizar os efeitos políticos da instauração de investigações, prisões, delações e sentenças”, disse.
Passada uma década, os principais nomes envolvidos na força-tarefa ainda ocupam o noticiário. Símbolo da operação, o então juiz Sergio Moro acumulou polêmicas e foi declarado suspeito pelo STF nas ações que condenaram o presidente Lula (PT).
Depois, Moro abandonou a carreira e assumiu o Ministério da Justiça no governo Jair Bolsonaro (PL). Deixou a pasta, anunciou pré-candidatura à Presidência da República, e desistiu. Se candidatou ao Senado pelo Paraná e foi eleito, mas corre o risco de perder o mandato por conta de uma ação por suspeita de caixa dois durante a campanha.
Outro rosto é Deltan Dallagnol. Ex-coordenador da operação, ele se afastou após denúncias de excessos e da divulgação de mensagens suas com Moro e outros procuradores. Renunciou no Ministério Público para apostar em uma carreira política, mas acabou sendo cassado como deputado federal no ano passado, após ser barrado pela lei da ficha limpa. (Correio Braziliense)
Para o professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma (EUA) Fabio de Sá e Silva, é preciso analisar os impactos negativos da Lava Jato. “Ajudou a causar recessão econômica, foi pródiga na violação da lei e de direitos e garantias processuais e pavimentou o caminho para a ascensão da extrema-direita. Não por acaso, é nesse ponto do espectro político que estão seus principais protagonistas”, disse.
Segundo Silva, os principais personagens da Lava Jato trocaram de lugar na história. “Antes eram combatentes da impunidade. Hoje, são símbolos dela. Degradaram as instituições da justiça, violaram a lei, e saíram pela porta da frente, sem terem respondido a contento por suas condutas. Vivem da mesma política que demonizaram”, avaliou.
O cientista político e advogado constitucionalista Nauê Bernardo de Azevedo também destaca um saldo ruim. “Várias empresas quebraram, tivemos problemas políticos gravíssimos. Serviu para alimentar o sentimento de anti-política na população brasileira, agentes navegaram politicamente e acabaram indo para o Parlamento”, ressaltou.
Impacto
O cientista político Rafael Rodrigues Viegas, doutor em Administração Pública e Governo pela Fundação FGV-SP e presidente do Observatório do Controle, afirma que a Lava Jato foi marcada por suas metodologias e disfunções observadas nos órgãos de controle como Polícia Federal, MPF e Justiça Federal.
“Parcialidade, uso indevido e midiático de ferramentas de direito penal e processual penal como meio de coação para delações premiadas, e vazamentos seletivos de informações são exemplos das ilegalidades”, disse.
Viegas tece críticas sobre a atuação dos agentes públicos diante da força-tarefa. Para ele, a operação teve influência direta em eventos políticos históricos como o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. “A Lava Jato é, sem dúvida, um evento político e midiático, de defesa de interesses corporativos. Uma operação que afetou o funcionamento do Estado e da democracia brasileira. Procuradores instrumentalizaram estratégica e politicamente mecanismos da Justiça combinando com a exploração midiática a fim de maximizar os efeitos políticos da instauração de investigações, prisões, delações e sentenças”, disse.
Passada uma década, os principais nomes envolvidos na força-tarefa ainda ocupam o noticiário. Símbolo da operação, o então juiz Sergio Moro acumulou polêmicas e foi declarado suspeito pelo STF nas ações que condenaram o presidente Lula (PT).
Depois, Moro abandonou a carreira e assumiu o Ministério da Justiça no governo Jair Bolsonaro (PL). Deixou a pasta, anunciou pré-candidatura à Presidência da República, e desistiu. Se candidatou ao Senado pelo Paraná e foi eleito, mas corre o risco de perder o mandato por conta de uma ação por suspeita de caixa dois durante a campanha.
Outro rosto é Deltan Dallagnol. Ex-coordenador da operação, ele se afastou após denúncias de excessos e da divulgação de mensagens suas com Moro e outros procuradores. Renunciou no Ministério Público para apostar em uma carreira política, mas acabou sendo cassado como deputado federal no ano passado, após ser barrado pela lei da ficha limpa. (Correio Braziliense)