Manipulação digital eleva alerta nas eleições de 2026 Apenas em 2025, a Justiça Eleitoral já registrou 51 ações que mencionam o uso de vídeos, áudios e imagens ultrarrealistas com conteúdos manipulados por IA

Cecília Belo

Publicação: 24/06/2025 03:00

Fake news devem ficar ainda mais sofisticadas por conta das deepfakes que usam IA (RAFAEL VIEIRA/DP FOTO)
Fake news devem ficar ainda mais sofisticadas por conta das deepfakes que usam IA


Em 2022, indícios iniciais das deepfakes - conteúdo que altera imagens, áudios e vídeos com uso de Inteligência Artificial (IA) - começaram a aparecer no jogo político brasileiro. A chamada “primeira deepfake das eleições” usou IA para alterar a imagem da jornalista Renata Vasconcellos, apresentadora do Jornal Nacional (TV Globo), que dizia em vídeo que o então presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), tinha 44% das intenções de voto, enquanto Lula (PT) tinha 32%.

Na edição original, que foi ao ar em 15 de agosto do mesmo ano, a apresentadora divulgou os corretos dados da pesquisa do Ipec) Lula com 44% e Bolsonaro com 32% nas urnas. 

Já em 2024, em Pernambuco, um perfil na rede Instagram foi suspenso por uso de deepfake para difamar o então prefeito de Agrestina, Josué Mendes, e a pré-candidata à prefeitura, Carmen Miriam, ambos do PRB. O vídeo registrou 10 mil visualizações e mais de 300 compartilhamentos. No mesmo ano, a candidata à prefeitura de Ipojuca, Adilma Lacerda (Progressistas), teve conteúdo audiovisual manipulado circulando nas redes, com declarações fabricadas.

Esses são apenas alguns exemplos de como as deepfakes devem elevar a preocupação das autoridades com as fake news com a proximidade das eleições de 2026, sobretudo com a sofisticação da tecnologia que permite a produção de vídeos, áudios e imagens ultrarrealistas produzidos com conteúdos manipulados por IA. 

Apesar das proibições legais e da determinação que qualquer conteúdo de IA deva ter aviso explícito, já foram registradas na Justiça Eleitoral, em 2025, 51 processos que fazem menção às deepfakes. No ano passado, foram 109 ações do tipo. Os dados são do Diário Eletrônico da Justiça.

Ainda este ano, a Advocacia-Geral da União (AGU) já fez 12 pedidos de retirada de conteúdos falsos e nove deles foram atendidos. Casos assim foram registrados no Maranhão, Piauí, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e outros lugares do Brasil, envolvendo políticos de diversos partidos.

“É importante reconhecer que estamos entrando em uma nova fase, caracterizada pela produção massiva de materiais com alta qualidade técnica, algo que não existia há alguns anos”, explica o advogado especialista em Direito Digital, Pedro Silveira.

Ainda segundo o advogado, a Justiça Eleitoral acompanha melhor o ritmo acelerado do avanço tecnológico, visto que o TSE ajusta suas próprias regras, chamadas de resoluções, de forma mais rápida, sem precisar passar pela burocracia do Congresso Nacional.