A história viva da Refeno Presente em todas as edições da regata, Emílio Russell parte neste sábado a Fernando de Noronha

Publicação: 24/09/2016 03:00

Velejador vai ao encontro do arquipélago, pelo mar, pela 52ª vez. Abaixo, o registro da primeira viagem (Shilton Araujo/Esp.DP)
Velejador vai ao encontro do arquipélago, pelo mar, pela 52ª vez. Abaixo, o registro da primeira viagem
“Eu considero que Fernando de Noronha é um medidor da minha vida. Até o dia em que eu fui a Fernando de Noronha eu pensava uma coisa. Depois disso eu só penso em voltar lá.” Voltará. Ao meio-dia deste sábado, o pensamento de Emílio Russell, 61 anos, partirá a caminho do arquipélago pernambucano. Pela 52ª em sua vida, irá de barco até o pedaço de terra que mais o fascina no planeta. Pela 28ª vez, voltará à ilha como um dos tripulantes da Regata Recife-Fernando de Noronha, a Refeno, que, neste ano, chega à sua 28ª edição.

Emílio esteve presente em todas as edições da regata oceânica. É o único. Recordista de participações e histórias. Todas devidamente anotadas. “Eu fui 51 vezes de barco. Essas eu sei porque eu tenho diário de bordo. Então sei a data, sei com quem fui, sei qual foi o barco…”, diz. Ao todo, são oito diários, que contam as idas para Noronha e aventuras por outras águas. Ele encontrou um dos livros. Os outros estão guardados por conta de uma mudança recente. “Às vezes eu fico lendo, lembrando das histórias. Tem um bocado de água azul e um bocado de água marrom que já passaram por baixo da minha quilha”, afirma.

De todas as viagens, Emílio elege Noronha como o seu destino preferido. É até óbvio pela empolgação de como trata o arquipélago. Uma questão de atração mágica, que ele sentiu a primeira vez na Refeno. Talvez por isso o carinho pelo lugar se confunda com o que tem pela regata. Sentimento que ele escolhe uma imagem para definir. A chegada. Indescritível, para ele. “Chegar na Ilha é algo… Quando a gente avista a Ilha, é uma comemoração”, diz.

1986: A primeira refeno
Emílio irá ver o arquipélago surgir na mistura de céu e mar pela 52ª vez. Em seus arquivos, recentemente, foi buscar as origens. A primeira vez que fez a travessia. “Postei recentemente umas 60 fotos da primeira Refeno”, diz. Lembra mais. De antes. Do desafio que foi chegar pela primeira vez. Acompanhou tudo como espectador “Algumas excursões foram feitas sem sucesso para Noronha, dois ou três barcos daqui. Um não achou a Ilha e voltou, outro quebrou o mastro...”, lembra.

Camiranga deve chegar a Noronha na manhã deste domingo (Shilton Araujo/Esp.DP)
Camiranga deve chegar a Noronha na manhã deste domingo
O desafio posto aos pernambucanos foi atingido em 1984. À frente da “loucura” estava Maurício Castro. “Um dia, Maurício, num barco com Léo Almeida, fez essa travessia. Deu certo. Aí ele pensou num cruzeiro para o ano que vem, para 1985, e foi feito o Cruzfafeno, em 1985. Depois ele pensou na regata. Viu que era viável e fez a regata para 1986”, recorda Emílio, que foi de convidado na Refeno de estreia. No ano seguinte, foi no Jangadeiro, o barco que o levou a maioria das vezes ao arquipélago. Na edição 2016, ele vai, mais uma vez de convidado. Com o Jangadeiro em processo de recuperação - “passou um tempo sem manutenção”, alega -, vai de “carona” no Avatar.

O MAIOR SUSTO
Emílio Russell participou da Refeno até quando a regata não aconteceu. Em 1990, o evento foi cancelado a poucos dias da largada. O número de inscritos era pequeno. “Estávamos prontos aqui, preparados, e a regata foi cancelada. Como já tinham barcos prontos para ir, nós fomos. Eram cinco pernambucanos mais dois estrangeiros, eram sete barcos”, recorda ele. Desde a sua criação, em 1986, a Refeno não aconteceu em três oportunidades: 1988, 1990 e 1991.

Nessa “expedição” de 1990, Emílio viveu o maior susto que já teve sobre as águas. A princípio, evita a história. Parece querer deixar a lembrança adormecida. Cede aos questionamentos. Com uma ressalva: reforça que o fato não aconteceu no ambiente da Refeno.

“Éramos cinco pessoas, duas com experiência, eu e Fernando Marrocos. Os dois não podiam dormir ao mesmo tempo. Era umas cinco horas da tarde, eu tinha acabado de pegar um peixe grande, eu tenho as fotos, então eu posso até mostrar, não é história de pescador... Passei o dia de cinto de segurança, amarrado e tudo. Mas quando eu fui tratar o peixe, fiquei sujo de sangue. Normalmente a gente toma um banho de água salgada para depois tomar um banho de água doce, para economizar a água doce. E eu fui para a popa do barco (parte de trás) para tomar esse banho. E para tirar a camisa eu tinha que tirar o cinto. Na hora que eu tirei o cinto, veio uma onda mais forte e eu caí”, conta.

“Eu já caí gritando. Fernando estava dormindo. Depois que eu gritei, acordaram o Fernando. Ele subiu e disse para um amigo nosso: ‘Você não vai fazer nada, você só vai ficar apontando para ele. A manobra que eu fizer aqui você fica apontando para ele.’ Porque em alto-mar, você só vê mais céu, você não tem nenhum ponto de referência. Eu já era um pontinho preto, longe, era só a cabeça. Aí o barco foi virando e ele (o amigo) apontando. E Fernando veio na minha direção. E eu passei aí uns seis sete minutos terríveis na vida. Mas não foi na regata”, reforça.

Uma experiência que serviu de aprendizado. Fernando atribui o acidente ao excesso de confiança. “Soltei o cinto para tirar uma camisa, eu poderia ter tirado a camisa aqui, ter descido para ir à popa amarrado. Mas foi um aprendizado.”

12h
largada da Refeno, no Marco Zero

Vencedores

Os barcos que ganharam o Fita Azul

Ano    Fita Azul

1986    Windancer-RJ
1987    Curimã-RJ
1989    Fuzuê-BA
1992    Suzy Dear-RJ
1993    Chrisleen-BA
1994    Top Hat-SP
1995    Swing-SP
1996    Vagabundo Celeste-ING
1997    Catorze-PE
1998    Odara-BA
1999    Bahia-BA
2000    Adrenalina Pura-BA
2001    Adrenalina Pura-BA
2002    Adrenaina Pura-BA
2003    Odara-BA
2004    Ave Rara-PE
2005    Adrenalina Pura-BA
2006    Adrenalina Pura-BA
2007    Adrenalina Pura-BA
2008    Adrenalina Pura-BA
2009    Sorsa-RJ
2010    Ave Rara-PE
2011    Indigo-RJ
2012    Ave Rara-PE
2013    Ave Rara-PE
2014    Camiranga-RS
2015    Camiranga-RS