A história viva da Refeno
Presente em todas as edições da regata, Emílio Russell parte neste sábado a Fernando de Noronha
Publicação: 24/09/2016 03:00
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Velejador vai ao encontro do arquipélago, pelo mar, pela 52ª vez. Abaixo, o registro da primeira viagem |
Emílio esteve presente em todas as edições da regata oceânica. É o único. Recordista de participações e histórias. Todas devidamente anotadas. “Eu fui 51 vezes de barco. Essas eu sei porque eu tenho diário de bordo. Então sei a data, sei com quem fui, sei qual foi o barco…”, diz. Ao todo, são oito diários, que contam as idas para Noronha e aventuras por outras águas. Ele encontrou um dos livros. Os outros estão guardados por conta de uma mudança recente. “Às vezes eu fico lendo, lembrando das histórias. Tem um bocado de água azul e um bocado de água marrom que já passaram por baixo da minha quilha”, afirma.
De todas as viagens, Emílio elege Noronha como o seu destino preferido. É até óbvio pela empolgação de como trata o arquipélago. Uma questão de atração mágica, que ele sentiu a primeira vez na Refeno. Talvez por isso o carinho pelo lugar se confunda com o que tem pela regata. Sentimento que ele escolhe uma imagem para definir. A chegada. Indescritível, para ele. “Chegar na Ilha é algo… Quando a gente avista a Ilha, é uma comemoração”, diz.
1986: A primeira refeno
Emílio irá ver o arquipélago surgir na mistura de céu e mar pela 52ª vez. Em seus arquivos, recentemente, foi buscar as origens. A primeira vez que fez a travessia. “Postei recentemente umas 60 fotos da primeira Refeno”, diz. Lembra mais. De antes. Do desafio que foi chegar pela primeira vez. Acompanhou tudo como espectador “Algumas excursões foram feitas sem sucesso para Noronha, dois ou três barcos daqui. Um não achou a Ilha e voltou, outro quebrou o mastro...”, lembra.
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Camiranga deve chegar a Noronha na manhã deste domingo |
O MAIOR SUSTO
Emílio Russell participou da Refeno até quando a regata não aconteceu. Em 1990, o evento foi cancelado a poucos dias da largada. O número de inscritos era pequeno. “Estávamos prontos aqui, preparados, e a regata foi cancelada. Como já tinham barcos prontos para ir, nós fomos. Eram cinco pernambucanos mais dois estrangeiros, eram sete barcos”, recorda ele. Desde a sua criação, em 1986, a Refeno não aconteceu em três oportunidades: 1988, 1990 e 1991.
Nessa “expedição” de 1990, Emílio viveu o maior susto que já teve sobre as águas. A princípio, evita a história. Parece querer deixar a lembrança adormecida. Cede aos questionamentos. Com uma ressalva: reforça que o fato não aconteceu no ambiente da Refeno.
“Éramos cinco pessoas, duas com experiência, eu e Fernando Marrocos. Os dois não podiam dormir ao mesmo tempo. Era umas cinco horas da tarde, eu tinha acabado de pegar um peixe grande, eu tenho as fotos, então eu posso até mostrar, não é história de pescador... Passei o dia de cinto de segurança, amarrado e tudo. Mas quando eu fui tratar o peixe, fiquei sujo de sangue. Normalmente a gente toma um banho de água salgada para depois tomar um banho de água doce, para economizar a água doce. E eu fui para a popa do barco (parte de trás) para tomar esse banho. E para tirar a camisa eu tinha que tirar o cinto. Na hora que eu tirei o cinto, veio uma onda mais forte e eu caí”, conta.
“Eu já caí gritando. Fernando estava dormindo. Depois que eu gritei, acordaram o Fernando. Ele subiu e disse para um amigo nosso: ‘Você não vai fazer nada, você só vai ficar apontando para ele. A manobra que eu fizer aqui você fica apontando para ele.’ Porque em alto-mar, você só vê mais céu, você não tem nenhum ponto de referência. Eu já era um pontinho preto, longe, era só a cabeça. Aí o barco foi virando e ele (o amigo) apontando. E Fernando veio na minha direção. E eu passei aí uns seis sete minutos terríveis na vida. Mas não foi na regata”, reforça.
Uma experiência que serviu de aprendizado. Fernando atribui o acidente ao excesso de confiança. “Soltei o cinto para tirar uma camisa, eu poderia ter tirado a camisa aqui, ter descido para ir à popa amarrado. Mas foi um aprendizado.”
12h
largada da Refeno, no Marco Zero
Vencedores
Os barcos que ganharam o Fita Azul
Ano Fita Azul
1986 Windancer-RJ
1987 Curimã-RJ
1989 Fuzuê-BA
1992 Suzy Dear-RJ
1993 Chrisleen-BA
1994 Top Hat-SP
1995 Swing-SP
1996 Vagabundo Celeste-ING
1997 Catorze-PE
1998 Odara-BA
1999 Bahia-BA
2000 Adrenalina Pura-BA
2001 Adrenalina Pura-BA
2002 Adrenaina Pura-BA
2003 Odara-BA
2004 Ave Rara-PE
2005 Adrenalina Pura-BA
2006 Adrenalina Pura-BA
2007 Adrenalina Pura-BA
2008 Adrenalina Pura-BA
2009 Sorsa-RJ
2010 Ave Rara-PE
2011 Indigo-RJ
2012 Ave Rara-PE
2013 Ave Rara-PE
2014 Camiranga-RS
2015 Camiranga-RS
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