Publicação: 10/01/2014 03:00
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Edifício foi desocupado após se ouvir barulho. Estrutura pode estar comprometida |
Q uase uma década depois do desabamento do Edifício Areia Branca, que matou quatro operários que trabalhavam numa reforma, o pesadelo dos prédios em risco estrutural volta a preocupar moradores de Piedade, em Jaboatão. As 14 famílias residentes do edifício Casa Grande, situado a 1,5 km de onde ficava o Areia Branca, na Avenida Bernardo Vieira de Melo, devem permanecer pelo menos até a próxima quarta-feira sem saber se poderão voltar ou não para seus apartamentos. O prédio de sete pavimentos, que tem dois apartamentos com quatro dormitórios a cada andar, foi interditado pela Defesa Civil do município após o aparecimento de rachaduras e da queda de parte do reboco da parede do térreo.
Treze famílias desocuparam seus imóveis, mas um morador se recusou a sair e passou a noite em casa após assinar termo de responsabilidade. Ontem, a movimentação dos técnicos e da imprensa assustou moradores dos prédios vizinhos. Muitos desciam dos apartamentos para perguntar se uma possível queda poderia afetar as estruturas dos imóveis do entorno.
A tensão no prédio começou por volta das 20h da quarta-feira, quando moradores ouviram um barulho e verificaram que algumas pilastras estavam com fissuras e havia paredes com ferragens expostas. Preocupados, acionaram os bombeiros, que chamaram a Defesa Civil. Os técnicos identificaram perda seções de armaduras e pontos de oxidação. O pilar principal, no térreo, tem indício de comprometimento. As famílias foram aconselhadas a sair. Só o morador do apartamento 402 não seguiu a recomendação.
A equipe retornou ao local na tarde de ontem e realizou nova vistoria. Segundo o engenheiro André de Castro, os problemas foram causados por falta de manutenção. Ele disse que não é possível precisar se há risco de desabamento. “Estamos aguardando o laudo, que deverá sair na quarta-feira. Por enquanto ficaremos monitorando diariamente o edifício”.
Durante as avaliações, alguns moradores apareciam na janela. “Eles estão vindo para pegar pertences, mas não estão dormindo aqui”, acrescentou o engenheiro. Nenhum deles quis conversar com a imprensa. O Diario entrou em contato com a DAC , empresa que faz a administração do condomínio, mas a firma também não quis comentar o problema.
Problemas em estruturas de prédios obrigaram centenas de pessoas a abandonar suas residências no Grande Recife nos últimos anos. Em 2013, esse drama foi vivido por 32 famílias do Edifício Emílio Santos, em Boa Viagem, e 224 do Conjunto Residencial Eldorado, no Arruda. Estes dois últimos são do tipo “caixão”, diferentemente do Casa Grande e do Areia Branca.
Saiba mais
Cronologia de acidentes com prédios
1977 - Edifício Giselle, em Jaboatão dos Guararapes, desabou e deixou 22 pessoas mortas
1992 - Edifício Baronati, em Olinda, ruiu parcialmente
1994 - Edifício Bosque das Madeiras, no Engenho do Meio, ruiu ainda em construção
1996 - Edifício Nossa Senhora da Conceição, em Piedade, ruiu parcialmente
1997 - Edifício Aquarela, em Piedade, desabou parcialmente e foi demolido depois
1999 - Edifício Éricka, em Jardim Fragoso, Olinda, desabou e quatro pessoas morreram
1999 - O bloco B do edifício Enseada de Serrambi, também em Jardim Fragoso, desabou deixando sete mortos e 11 feridos
2001 - Edifício Ijuí, em Candeias, desabou
2004 - Edifício Areia Branca, em Jaboatão dos Guararapes, desabou. Quatro pessoas morreram**
2007 - Edifício Sevilha, em Piedade, desabou
2009 - Parte do bloco 155 do Conjunto Muribeca ruiu
2010 - Prédios com risco do Residencial Boa Viagem 1 foram demolidos
2012- Edfício Olinda, em Santo Amaro, passou 8 meses interditado
2013- Edifício Emílio Santos, em Boa Viagem, rachou e foi interditado
2013- Dois blocos do Conjunto Residencial Eldorado, no Arruda, racharam. Os demais 12 blocos também foram interditados
Como proceder em caso de problemas com o prédio?
O seguro deve cobrir o valor total do imóvel caso o apartamento não seja quitado. O seguro não cobre o valor do imóvel em casos que o apartamento está quitado
O morador deve entrar com uma ação na Justiça estadual fundamentado na existência da apólice que cobre sinistros
Como a Caixa precisa assegurar que o imóvel é seguro antes de liberar o financiamento, o proprietário pode acionar a Justiça alegando omissão do banco na vistoria do apartamento
O pagamento de aluguel enquanto a Justiça analisa o processo cabe nas duas situações