Tarde de desolação em Betânia
Multidão acompanhou último adeus aos dez trabalhadores mortos no acidente com
van superlotada
WAGNER OLIVEIRA
Publicação: 27/02/2014 03:00
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Corpos foram velados nas casas das famílias e em um clube antes do sepultamento no cemitério de São Caetano do Navio |
Milhares de pessoas foram às ruas de Betânia, situada no Sertão, a 395 km do Recife, para dar adeus aos dez trabalhadores rurais mortos no acidente com a Sprinter superlotada que caiu de uma ponte em Venturosa, no Agreste, na segunda-feira. Uma multidão da cidade onde viviam as vítimas fez o cortejo até o cemitério de São Caetano do Navio na tarde de ontem. Os gritos de despedida dos familiares deixaram mudo quem se aproximava para levar conforto. Nessa hora, quase não há o que dizer. A dona de casa Sabina Regina da Soledade, 85 anos, velou dois mortos dentro de casa e parecia firme. Mas bastou os caixões onde estavam os corpos do filho Manoel João dos Santos e da sobrinha Francisca Maria da Silva, ambos de 43 anos, serem fechados para ela entrar em desespero. Maria Regina da Conceição, 88, não foi ao enterro da filha, única mulher entre os mortos, pois passou mal.
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O dia 26 de fevereiro não será esquecido pela população do município de 12 mil habitantes. “A cidade nunca viveu uma tragédia como essa”, disse um morador. Dor e desespero invadiram a casa do agricultor Severino Pedro dos Santos, 52, quando o caixão com o corpo dele chegou pela manhã. Severino era pai do motorista da Sprinter, Josivan Severino dos Santos, que segue internado no Hospital da Restauração e pode ser indiciado pelas mortes, pois a van tinha capacidade apenas para 16 pessoas e levava 23. O agricultor José Pedro dos Santos, irmão de Severino e tio de Josivan, disse que a família ainda não falou com o rapaz. “Só disseram que o estado é estável”, contou.
Nome trocado
Passava das 3h de ontem quando os dois primeiros corpos chegaram a Betânia. Os familiares de Anaclécio Antônio da Silva e Leonardo Ferreira do Nascimento, que já aguardavam no São Caetano Social Clube, levaram seus mortos para casa, para velá-los. Anaclécio foi enterrado em Betânia e Leonardo no Sítio Arraial, onde mora sua família. Por volta das 6h, os corpos das outras oito vítimas chegaram ao clube em meio a um silêncio quebrado pelo carro de som que avisou sobre os sepultamentos.
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Na lista de mortos, havia o nome de uma pessoa que, segundo moradores, está
internada. No lugar de Erinaldo José de Lima entrou o nome de Manoel João dos Santos, cujo corpo foi reconhecido. Como algumas vítimas ficaram com rostos desfigurados, muitos caixões tinham fotografias próximas. Na terça-feira, o bispo de Floresta, Gabriel Marchesi, celebrará a missa de sétimo dia na Matriz de São Gonçalo, em Betânia. Dos 13 feridos no acidente, apenas Cícero Manoel dos Santos teve alta médica. O motorista da van, Josivan dos Santos, segue internado.
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