Em busca de novos sons Pesquisadores e músicos do estado apostam no Digital Musical Instruments, que usa a tecnologia na criação de instrumentos

THATIANA PIMENTEL
thatianapimentel.pe@dabr.com.br

Publicação: 06/08/2014 03:00

Jerônimo Barbosa, Filipe Calegario e João Tragtenberg montaram a Batebit e desenvolvem novos instrumentos (IVAN MELO/ESP. DP/D.A.P)
Jerônimo Barbosa, Filipe Calegario e João Tragtenberg montaram a Batebit e desenvolvem novos instrumentos
Já imaginou fazer música só com os movimentos do corpo? E nada de bater no peito ou bater palmas. É tecnologia mesmo ou Digital Musical Instruments (DMI), uma tendência que está sendo estudada em Pernambuco. O estado já mostrou, desde o manguebeat, que não tem medo de misturar o tradicional com o novo e agora sai na frente também na experimentação para criação de novos instrumentos e interações musicais. Como base, sensores Arduino, Pure Data e Ableton Live.

O pioneirismo começou com o Mustic – Música, Tecnologia, Interatividade e Criatividade, grupo de pesquisa e inovação criado pelo professor Geber Ramalho e alunos de computação do Centro de Informática (CIn) da UFPE. A equipe busca novos meios de expressão com foco nos sensores para converter movimentos corporais em som. Após vários experimentos, o grupo chegou a três instrumentos promissores, que já estão sendo testados na prática desde o ano passado por Helder Vasconcelos, ator, cantor e músico (vocalista do grupo Mestre Ambrósio) em seu projeto solo.

“A música, como qualquer prática cultural e humana, tende a acompanhar as mudanças culturais da sociedade. O que nós estamos fazendo é isso. Só que algumas pessoas não gostam dessa interface. São contra a tecnologia na música”, afirma Geber Ramalho. Ele ressalta, entretanto, que tudo é tecnologia. “Um lápis é tecnologia. Antes, a gente dominou a madeira e o metal e daí tiramos diversos instrumentos. Agora, estamos fazendo o mesmo com mundo digital.”

Híbrido, usado por Filipe, facilita o aprendizado (IVAN MELO/ESP. DP/D.A.P)
Híbrido, usado por Filipe, facilita o aprendizado

Além do pioneirismo, o Mustic incentivou a formação de outro grupo de pesquisadores pernambucanos com as mesmas interações. Trata-se do Batebit Artesania Digital, fruto da pesquisa Diálogos entre a lutheria digital e a música popular pernambucana, realizada com o incentivo do Funcultura pelos pesquisadores Filipe Calegario, Jerônimo Barbosa e João Tragtenberg, todos participantes do Mustic.

Juntos desde 2013, os três estão desenvolvendo os instrumentos Pulsar (sensor de manipulação de voz e som ao vivo para cantores), o Chuva Suor e Cerveja (sensor que capta o contato entre corpos e os transforma em música) e Híbrido (facilita que novos usuários aprendam a tocar quatro instrumentos: pandeiro, violão, trombone de vara e piano). Segundo Jerônimo, as possibilidade de interação entre as duas áreas são inúmeras. “Nosso foco é usar o corpo humano como interface entre o musical e o digital. A gente faz tantos movimentos. Cada pessoa é, por si só, uma orquestra”, relata.

Filipe Calegario ressalta que o desenvolvimento dos três instrumentos está sendo relatado em detalhes no site batebit (www.batebit.cc). “Nossa ideia não é criar algo o novo para vender. Isso pode até acontecer, mas queremos compartilhar conhecimento, experimentar, aprender, ensinar e criar, incentivar outros estudos e outras explorações, aumentar a diversidade de loucura.”