Malunguinho e as raízes quilombolas Seminário sobre os 180 anos da morte do líder João Batista enfoca divindade da Jurema e espaços de resistência negra

Publicação: 04/09/2015 03:00

Para adeptos, a pesquisa reforçou a religião do ponto de vista histórico (GABRIEL KUBRUSLE/DIVULGAÇÃO)
Para adeptos, a pesquisa reforçou a religião do ponto de vista histórico
Malunguinho ingressou no mundo das pesquisas acadêmicas. Parte do conhecimento histórico sobre essa divindade da Jurema, que se manifesta nas formas de caboclo, mestre, trunqueiro e reis, será apresentada hoje pelo professor Marcus Carvalho. Conferencistas do seminário sobre os 180 anos da morte do personagem, a ser realizado na Fundação da Joaquim Nabuco (Fundaj), ele identificou em pesquisas aquele que foi o último dos líderes do Quilombo de Catucá e Malunginho, João Batista.

A fama do líder quilombola chegou ao ponto, segundo Marcus Carvalho, de o espaço de resistência negra ser denominado por pesquisadores de o Quilombo de Malunguinho. O primeiro contato de Marcus com o assunto aconteceu nos anos 1980. A princípio, ele desconhecia a relação entre o líder e as reverências dos juremeiros à divindade. A descoberta ocorreu, paralelamente à análise documental, em conversas com pesquisadores ligados à Jurema. O centro do quilombo ficava nas matas entre as freguesias de Paratibe, Paulista e o Recife.

“Por malungos, ou companheiros, se tratavam mutuamente aquelas pessoas que vieram ao Brasil no mesmo navio negreiro”, explica o conferencista. A forma diminutiva do termo malungo, avalia ele, pode não se referir a uma pessoa, mas à forma como a classe senhorial chamava qualquer chefe do quilombo. Os adeptos da Jurema, religião de matriz afroindígena, também enxergam a questão pelo aspecto da liderança. Para o historiador e juremeiro, Alexandre L’Omil L’Odó, Malunguinho não apenas era um título aos líderes do Catucá como uma estratégia de defesa dos quilombolas. E João Batista foi apenas um deles.

O Quilombo de Catucá sofreu vários ataques por oferecer perigo ao Recife. Em 1826, a preocupação com os negros fugidos entrou na pauta do Conselho do Governo. Mas o governo somente conseguiu extinguir o quilombo em 1835, quando, após o fim da Cabanada, tinha ao seu lado a Guarda Nacional, soldados treinados no combate aos cabanos e de índios de Barreiro. As tropas, tendo os índios como batedores, mataram João Batista e capturaram seu filho e sucessor em setembro.

Valor
É consenso entre os adeptos da Jurema que a pesquisa do professor Marcus Carvalho reforçou a religião do ponto de vista histórico. “Ele veio dizer que não estamos cultuando lendas, mas pessoas que viveram e sobreviveram porque tiveram guerreiros e defensores”, disse. O seminário de hoje, em Casa Forte, integra a programação de Jurema neste mês, que inclui a realização do Kipupa Malunguinho, evento que acontecerá nas matas de Abreu e Lima no dia 27.