Na rua, um piano à espera
Projeto levou piano a vias movimentadas do Recife, às quintas-feiras de janeiro, e conseguiu mudar a rotina de dezenas de pessoas
Mayra Couto
mayracouto.pe@dabr.com.br
Publicação: 31/01/2016 03:00
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Amaro descobriu que o projeto nasceu por causa dele |
A iniciativa está intimamente ligada ao amor dos envolvidos pela música - tanto que o instrumento itinerante tem até um histórico emocional: foi herdado por Paulo da avó, falecida há 20 anos, depois de décadas de ensino do piano.
O músico Amaro Freitas, 24, foi o primeiro a arriscar-se no instrumento, que, na última quinta-feira (28), esteve à espera de curiosos na Avenida Rio Branco, esquina com a Rua do Bom Jesus, no Bairro do Recife. Mal sabia ele que o projeto - responsável por fazer seus olhos brilharem - foi criado por sua causa. A descoberta veio de uma amiga, Iara Lima. “Amaro toca piano e não tem um. Assim como ele, outras pessoas também não têm. Foi a partir disso que nasceu o projeto: da vontade de levar o instrumento para outras pessoas”, conta.
Mas, ao que parece, só o músico, com olhar surpreso, não sabia da “responsabilidade”. “Em 2015, fui apresentado a Amaro, pianista que tocava no restaurante em que eu jantava. Na conversa, ele disse ser agradecido ao meu irmão por deixar que ele fosse até o restaurante praticar”, relata Paulo Sultanum. Nesse dia, o artista plástico constatou a dificuldade de acesso de tanta gente. Por isso, tomou para si uma missão: “Não consegui um para ele, mas tinha presenciado ações com pianos em estações de trem, em São Paulo e na Califórnia. Daí, resolvemos fazer a versão local.”
O projeto percorreu, em sua primeira incursão, quatro pontos movimentados da capital, reunindo de músicos a aspirantes ou pessoas que nunca tinham tocado. A experiência provocou emoções distintas - desde quem era sensibilizado pelo que ouvia até o frisson adolescente ao pôr as mãos nas teclas pretas e brancas pela primeira vez. A estudante Laura Beatriz, 16, foi um desses casos. Sempre sonhou em tocar, o que era expresso entre um sorriso meio ansioso, de quem se vê diante de algo novo, e até certo estranhamento. “Nunca tinha experimentado. Achei as teclas pesadas. Foi incrível”, descreve. Laura já buscava o projeto há algumas semanas - chorou ao saber que não chegaria a tempo de tocar o piano uma semana antes, quando era a vez do instrumento encantar as pessoas na Rua da Moeda, também no Bairro do Recife. Desta vez, conseguiu. Emocionou-se novamente.