Lixo vira arte e exemplo de sustentabilidade Artesão recebe colaborações para transformar materiais descartados em peças como flores e mandalas

Publicação: 17/04/2016 03:00

Max Felipe
Especial para o Diario
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Cerca de 25% do lixo recolhido diariamente em Pernambuco é reciclável, mas não se sabe o quanto é efetivamente reaproveitado. Na contramão do desperdício, o artesão Vicente Simões, 54 anos, se dedica a fazer obras de arte com garrafas pet, papel de jornal, bandejas de frutas e latas de refrigerante. A metéria-prima é obtida, em parte, através de colaborações de moradores do bairro das Graças, onde Vicente mantém um ateliê no qual vende suas peças e realiza um sarau cultural duas vezes ao mês.
Pai de três filhos e contabilista por formação, ele exerce sua profissão de origem apenas para declarar Imposto de Renda de amigos e familiares e para ganhar dinheiro necessário no custeio de tintas e equipamentos.
Cada peça artística encontrada no ateliê de Vicente tem uma técnica específica, inclusive a mandala - círculo mágico ou concentração de energia, e universalmente usado como símbolo da integração e da harmonia. “A mandala é produzida por meio de um recorte de jornal. É uma técnica de repetição, por exemplo. Faço o desenho de um coração, dobro o papel oito vezes, recorto e depois pinto. Então, isso vai depender da quantidade de dobraduras”, disse.
O seu jardim também tem um toque peculiar. Em vez de jarros de cimento, latinhas de cerveja, refrigerante e garrafão de água mineral dão nova dimensão às plantas, nutridas com a água reaproveitada do ar-condicionado, transportada através de uma linha feita de tampas de latinhas. “Se você não joga no lixo, já está ajudando a salvar o planeta e diminuir a quantidade de garrafas no lixão. Eu sou muito responsável pelo lixo que produzo”, enfatiza.
Vicente já conquistou o respeito dos vizinhos, que deixam na sua casa garrafas pet, latinhas e outros materiais reaproveitáveis, que demorariam anos para se decompor. “Com a latinha faço colar, broche, chaveiro, planta de alumínio, jarro. Já as tampinhas eu uso para fazer uma corrente que serve para aguar as plantas, aproveitando a água do ar-condicionado.”
Para não perder seu material de trabalho ele fez um porta-treco de madeira e garrafa pet para guardar pregos, parafusos e botões.
Os saraus acontecem sempre nas sextas-feiras, com direito a DJ. O próximo será realizado no dia 22 de abril, às 19h. Os convidados poderão montar cubos com disquetes coloridos, além de escolher flores feitas de bandeja de maçã, e fazer sua própria planta artificial.